Apresentação

Introdução

Breve história: anos 40 - 80
Anos 40 - 60: ascensão e declínio
- Anos 80: uma nova realidade

Metas, estratégias e resultados
- Dos anos 80 até os dias de hoje: novos horizontes
- Os sistemas de tradução automática e seu funcionamento
- Alguns sistemas bem sucedidos
- As diferentes estratégias: vantagens e desvantagens
- Presente e futuro

Os programas, na prática
- A questão da comercialização e da propaganda
- Globalink Power Translator Pro: testes visando a tradução profissional

Linhas finais

Bibliografia

Anexo: recursos de tradução automática na Internet

Breve história: anos 40 - 80

Anos 40 - 60: ascensão e declínio

Na década de 40, a tradução automática teria sido a primeira aplicação não numérica proposta dentro da nova área da ciência da computação, instigada pela explosão da transmissão de informações e pela relativa facilidade (segundo erroneamente se imaginava) de se calcar o processo computacional em uma técnica humana aparentemente simples [Nirenburg, S. 1987].

Ela recebeu seu primeiro impulso efetivo a partir de 1946, logo após o fim da segunda guerra mundial, com o início da guerra fria, sendo desenvolvida principalmente por americanos e ingleses. O principal objetivo era promover a obtenção de informações científicas soviéticas à distância e da maneira mais rápida possível. A pedra fundamental é atribuída ao inglês Booth e ao americano Warren Weaver [Mateus, M. H. M. et al. 1995], que desenvolveram uma calculadora científica com dados suficientes para realizar uma tradução palavra a palavra, desconsiderando-se questões lingüísticas como a sintaxe ou a ordem lexical. Traduzindo através dessa máquina uma lista de palavras-chave de um determinado texto, uma pessoa da área poderia ter uma idéia do seu conteúdo.

Antes disso, o cientista russo Smirnov-Trojanskij teria apresentado, em 1933, uma máquina que, segundo ele, traduzia diversas línguas simultaneamente e à distância. Em 1939, lingüistas soviéticos não consideraram o aparelho científico, opinião reforçada em 1944 pelo Instituto de Automatização e Telemática da Academia das Ciências da U.R.S.S. [Mateus, M. H. M. et al. 1995].

Em 1948, o inglês Richens introduziu, no programa desenvolvido por Booth e Weaver, informações relativas à análise gramatical das desinências russas. Além de proporcionar ao leitor informações mais precisas sobre a função da palavra na sentença, esse processo causou a diminuição de entradas no dicionário, o que acelerou a consulta automática.

No início dos anos 50, Weaver propôs a exploração automática do contexto dos termos, visando solucionar problemas de ambigüidade semântica. Ele acreditava que os circuitos lógicos das calculadoras seriam capazes de resolver os elementos lógicos da linguagem, auxiliados pela determinação da área à qual a informação pertence. Em pouco tempo, os estudiosos perceberiam o quanto suas pressuposições estavam equivocadas. Em 1950, Reifler já expressara, num estudo, a necessidade da preparação dos textos a serem submetidos à tradução automática, provada pelos primeiros resultados práticos [Mateus, M. H. M. et al. 1995]. Desde então, a pré edição, o auxílio humano durante a tradução e/ou a revisão posterior dos textos tornou-se prática indispensável ao processo.

É ainda nos anos 50 que surgem diversos trabalhos sobre a tradução automática, acompanhando experiências e congressos. No congresso de 1952 do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, sobre os problemas da tradução automática, concluiu-se que deveriam ser investigadas, em primeiro lugar, a freqüência das palavras, equivalências lingüísticas, memórias eletrônicas e outros aspectos técnicos, para depois passar-se à análise sintática e à construção propriamente dita de programas de tradução. Além disso, ficou determinado que o objetivo mais próximo seria o desenvolvimento de um programa que realizasse a tradução em um único sentido entre duas línguas, sem a preocupação imediata com a produção de máquinas multilíngües. Considerou-se também a possibilidade de utilizar uma língua intermediária, neutra, para se realizar a tradução entre duas línguas, técnica empregada até hoje [Mateus, M. H. M. et al. 1995]. Ainda em estágio embrionário, as técnicas para a tradução automática começavam lentamente a se encaixar nos moldes que persistiriam até os dias de hoje.

Em 1954, na Universidade de Georgetown, é realizada a primeira experiência de tradução automática do russo para o inglês com um computador - ao invés das calculadoras científicas - considerada satisfatória. O vocabulário continha 250 palavras e seis regras sintáticas. No ano seguinte, a União Soviética publica resultados satisfatórios utilizando calculadoras [Mateus, M. H. M. et al. 1995].

Vale ressaltar que, apesar das conclusões obtidas em congressos e dos esforços para se delimitar a área e os objetivos mais imediatos, ainda imaginava-se a possibilidade da tradução rápida e de boa qualidade de textos arbitrários, de maneira especial militares e de inteligência, os grandes financiadores dos projetos iniciais. Em pouco tempo, a consciência da impossibilidade de se alcançar essas expectativas causaria uma grande mudança de rumo, como veremos adiante.

É somente no final dos anos 50, após quase uma década de desenvolvimento científico e tecnológico nos Estados Unidos, na Inglaterra e na União Soviética, que alguns outros países europeus começam a entrar nessa área. Os estudos prosseguem, muitas vezes em áreas lingüísticas bastante específicas, na maioria dos casos visando a tradução do russo para o inglês. Na Europa, tem início a pesquisa também para o francês.

O mesmo ocorre na U.R.S.S., que trabalha no desenvolvimento de máquinas para a tradução de alemão, inglês, magiar, chinês e francês [Mateus, M. H. M. et al. 1995]. Busca-se ainda transformar os estudos lingüísticos em uma ciência exata, empregando-se métodos de matemática.

Nos anos 60 veio o desânimo. As aplicações práticas não correspondiam às previsões teóricas e a lingüística formal não conseguia explicar os problemas ligados a estruturas, processos, funções, formas, etc., que se multiplicavam. A tradução automática foi desacreditada, culminando em 1966 com a emissão do Relatório ALPAC pela Academia de Ciências americana. Apesar de criticado como sendo tendencioso e limitado, seu conteúdo fortemente negativo com relação às chances de sucesso da tradução automática provocou um corte radical de verbas governamentais norte-americanas, remanescendo apenas três projetos em 1973 e nenhum em 1975 [Slocum, J. 1985]. Curiosamente, a única recomendação não seguida foi a que indicava a importância de se financiarem projetos de pesquisa a longo prazo. Nos Estados Unidos, apenas alguns cientistas isolados, como Peter Toma, responsável pelo desenvolvimento do sistema SYSTRAN, persistiram. Na Europa, o declínio foi um pouco menos radical.

Apesar do Relatório ALPAC, por falta de alternativas alguns sistemas de tradução automática desenvolvidos na década de 60 continuaram sendo comercializados e utilizados durante os anos 70.

É importante frisar que esses esforços iniciais, aparentemente fracassados, representaram um passo importante tanto para o desenvolvimento do processamento computacional quanto para a lingüística e a inteligência artificial. Como será visto adiante, muitos sistemas bem sucedidos utilizados nos dias de hoje tomaram como ponto de partida os problemas detectados em programas anteriores - às vezes, começar a partir de algo falho pode ser melhor do que iniciar do zero. De fato, uma das principais dificuldades enfrentadas pelos cientistas da área sempre foi a falta de suporte, como ficará mais claro ao longo deste trabalho. Até mesmo a máquina incrível de Smirnov-Trojanskij poderia ter ditado novos rumos para a lingüística computacional se não tivesse sido totalmente descartada no início dos anos 40.

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