Apresentação

Introdução

Breve história: anos 40 - 80
- Anos 40 - 60: ascensão e declínio
- Anos 80: uma nova realidade

Metas, estratégias e resultados
Dos anos 80 até os dias de hoje: novos horizontes
- Os sistemas de tradução automática e seu funcionamento
- Alguns sistemas bem sucedidos
- As diferentes estratégias: vantagens e desvantagens
- Presente e futuro

Os programas, na prática
- A questão da comercialização e da propaganda
- Globalink Power Translator Pro: testes visando a tradução profissional

Linhas finais

Bibliografia

Anexo: recursos de tradução automática na Internet

Metas, estratégias e resultados

Dos anos 80 até os dias de hoje: novos horizontes

Como foi visto, a concepção popular de tradução automática refletia a idéia, alimentada a partir de meados dos anos 40, de que deveria ser possível fazer com que um computador gerasse a tradução correta, numa língua B, de uma frase na língua A, sem intervenção humana. No caso de ambigüidade, ele deveria poder apresentar duas traduções corretas [Santos, P. 1995].

Sabemos que essa idéia é ambiciosa demais. Porém sabemos, também, que a sucessão de fracassos práticos acabou originando objetivos mais específicos, realistas e modestos.

A partir de meados dos anos 80, reflexões sobre as reais possibilidades da tradução automática, estimuladas pela velocidade crescente de transmissão de informações e tudo o que isso implica, entre uma série de outros aspectos, originaram novas metas e interesses para a tradução automática.

Um dos fatores considerados, por exemplo, é que no caso da tradução humana a maior parte das traduções visando a disseminação de informações, mais do que meramente a sua aquisição, passa por uma revisão, feita por tradutores qualificados que comparam o texto traduzido ao original - isso confere confiabilidade à tradução. Assim, é um tanto pretensioso desejar que uma máquina dispense esse tipo de procedimento, e a idéia de que a tradução automática deve necessariamente ser totalmente autônoma e de grande qualidade passou a ser repensada [Slocum, J. 1985].

Dessa forma, para fins de obtenção de informações, por exemplo, mesmo uma tradução de baixa qualidade pode ser suficiente para a compreensão das idéias principais de um texto, o que pode ser obtido num tempo mínimo. Caso haja interesse, uma tradução mais cuidadosa pode ser providenciada. Por outro lado, a economia de tempo e dinheiro resultante da eliminação da tradução de textos irrelevantes ou não muito necessários é óbvia e em muitos casos pode representar uma excelente justificativa para se investir em sistemas de tradução automática [Slocum, J. 1985].

Já com relação à tradução de textos para a disseminação de informações, que logicamente deve ser feita de modo muito cuidadoso, preciso e claro, os sistemas de tradução automática podem gerar uma considerável redução no tempo gasto para a tradução e no trabalho quantitativo dos tradutores bem qualificados (que não são encontrados facilmente e demandam muito dinheiro), permitindo que eles se dediquem a tarefas mais específicas - entre outras vantagens [Slocum, J. 1985].

Hoje, para aqueles que lidam com essa área - sejam pesquisadores ou clientes - um sistema de alta qualidade é aquele que gera um texto que permita uma revisão sem grandes problemas e cuja operação completa (incluindo essa revisão) ofereça uma boa relação custo-benefício [Slocum, J. 1985], segundo padrões que serão vistos adiante.

Uma conseqüência desse maior realismo acerca das possibilidades da tradução automática foi o surgimento de áreas de investigação e desenvolvimento de aplicativos computacionais que auxiliam a tradução e de programas de tradução automática que prevêem, em determinadas fases do processo, a intervenção humana.

O principal objetivo desta sub-área da pesquisa em tradução automática passou a ser a oferta de instrumentos eficientes, num espaço de tempo razoável, que realmente possam auxiliar o tradutor humano, tornando o seu trabalho mais rápido e menos repetitivo. Suas pretensões são modestas, porém justamente por isso podem ser em grande parte cumpridas, permitindo que os produtos entrem no mercado, sejam amplamente testados e recebam apoio para implementações posteriores [Santos, P. 1995] - serão vistos exemplos de alguns desses programas mais adiante.

A pesquisa e o desenvolvimento da tradução automática deve muito às inovações feitas em duas áreas diferentes que, no entanto, confluem neste campo: a inteligência artificial, de onde a tradução automática ainda extrai uma série de técnicas computacionais ligadas à análise e à geração automática de textos em língua natural, e a lingüística formal, em especial as teorias de Chomsky, segundo as quais a competência lingüística do falante de uma língua poderia ser descrita em termos de um número finito de regras ou princípios lingüísticos capazes de gerar um número infinito de frases nessa língua e de eliminar um número infinito de frases consideradas agramaticais.

Combinando essas duas áreas, pode-se deduzir que, se fosse possível "ensinar" a um computador essas regras ou princípios, ele poderia tornar-se capaz de analisar corretamente todas as frases de uma língua de origem, "compreendendo" o seu conteúdo, e de produzir frases numa língua de chegada mantendo o sentido do texto original, logo tornando-se também capaz de traduzir essas línguas. Questões de ambigüidade sintática seriam facilmente solucionadas, como ocorre com um falante de qualquer língua, que naturalmente faz uso do contexto lingüístico para atribuir o valor sintático correto a cada item da sentença [Santos, P. 1995].

De fato, cada vez mais os sistemas de tradução automática se baseiam em teorias lingüísticas bem fundadas. Entretanto, como veremos a seguir, esses mesmos sistemas acabam chegando a uma situação em que a lingüística formal é capaz de esquematizar casos que apresentam problemas como ambigüidades, referências anafóricas, etc., eliminando as ambigüidades de forma bastante clara, enquanto que a implementação dessa capacidade em um sistema automático, incluindo a inserção de uma quantidade de dados suficiente para esse tipo de análise e simultaneamente visando uma margem de erro pequena e uma relação custo-benefício (em termos do próprio desenvolvimento de tal aplicação, do esforço computacional, do tempo de execução) satisfatória já é uma possibilidade um tanto discutível [Santos, P. 1995].

Ficará claro, também, que, tendo-se analisado completamente o texto de origem e chegado a uma estrutura sintático-semântica bem delimitada, a substituição dos itens lexicais por palavras de outra língua é a operação mais trivial do processo. Assim como ocorre em qualquer processo tradutório, a maior dificuldade reside na decodificação e na geração monolíngüe apropriada.

É importante ressaltar que o campo para o qual o desenvolvimento de sistemas automáticos de tradução é direcionado não é a tradução literária, que sempre será melhor desempenhada por humanos e onde não falta mão de obra, mas as diversas áreas técnicas, onde se valoriza o conhecimento terminológico especializado, o rigor e a fidelidade lexical, ainda que em detrimento do estilo - capacidades fáceis de serem implementadas num computador, enquanto que não é fácil encontrar pessoas habilitadas e disponíveis em áreas muito específicas. Aqui há lugar para todos os diferentes tipos de sistemas informatizados de auxílio à tradução [Slocum, J. 1985], conforme veremos a seguir.

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