Apresentação Introdução Breve história: anos 40 - 80 Metas, estratégias e resultados Os programas, na prática |
Os
programas, na práticaA questão da comercialização e da propaganda
A tradução automática é uma realidade cada vez mais presente.
Os sistemas evoluem a um ritmo lento, porém cada vez mais constante e firme. Um grande
número de tradutores já faz uso de vários desses programas e os depoimentos positivos
por parte de muitos profissionais estão se tornando uma constante na literatura da área.
Com o advento da Internet, a intensa aceleração da transmissão de informações e a
multiplicação da presença de diferentes línguas na aldeia global, a tradução
automática recebeu um novo impulso e um mercado altamente receptivo.
Aí entra uma questão um tanto delicada. Com o aumento da demanda e a facilidade de acesso ao público através da Internet, muitos programas passaram a ser comercializados para o público geral. Encontramos então diversas inconsistências entre as análises feitas e publicadas por cientistas da área e a forma como os inúmeros sistemas de tradução automática são apresentados ao público por seus fabricantes. Como foi visto ao longo de todo este trabalho, o desempenho dos principais programas de tradução automática corresponde às expectativas quando um ou mais aspectos no âmbito da tradução são restritos. Além disso, o público alvo é a classe dos tradutores, que não consegue absorver todo o trabalho e alcançar os níveis altamente técnicos requeridos dentro de certas áreas. Contudo, basta verificar as diversas home pages de software de tradução automática que estão sendo comercializados para notar que sua apresentação é bem diferente. Geralmente são feitas algumas ressalvas quanto à qualidade final do texto; em menos casos são feitas sugestões relativas ao formato geral do texto de entrada; quase nunca oferece-se o sistema como auxílio para tradutores profissionais (o Déjà Vu é uma exceção digna de nota; por outro lado, ele demanda uma série de restrições mesmo para os tradutores profissionais e possui metas bem específicas e distantes do ideal de uma tradução inteligente e totalmente automatizada, sendo pouco atraente para um público mais geral). A impressão que se tem é de que as ressalvas feitas visam tão somente evitar processos por propaganda enganosa; geralmente elas não são feitas no início dos manuais ou em seções de fácil acesso nas home pages. Como exemplo, podemos citar o guia do usuário do Globalink Power Translator Pro - que analisaremos adiante -, cujas recomendações sobre a estrutura do texto de entrada são apresentadas na página 44, já na segunda metade do manual, após as instruções básicas para o funcionamento do programa terem sido dadas (é muito provável que a maior parte dos usuários já passe a utilizar o sistema sem sequer chegar a essa seção do manual). Mais à frente no mesmo guia é recomendada a utilização interativa do programa (em contraposição à totalmente automática) para "casos mais delicados", já que, no modo de tradução totalmente automática, "em alguns casos, a tradução será precisa; em outros, nem tanto" [Guia do usuário] - isso é virtualmente tudo o que é dito em termos de restrições com relação à qualidade da tradução. No caso do site do SYSTRAN, após alguns "cliques" dentro das explicações sobre o funcionamento do sistema (não temos como estimar qual a porcentagem de visitantes do site que efetivamente chegam a esse ponto dentro da página), há uma breve menção à falta de precisão resultante de textos-fonte gerais, não preparados para a tradução automática, que são "mal organizados, personalizados (não seguem a linguagem padrão) ou mesmo com a linha de pensamento de alguma forma distorcida" ["badly organized, personalized (non standard) or even thought distorted in some way"] - ou seja, fica a idéia de que, se o texto-alvo não for muito preciso, a culpa será do autor do texto-fonte. Aparentemente, essas distorções se devem ao desejo e/ou à necessidade de se conseguir verba para dar continuidade à pesquisa e ao desenvolvimento dos produtos. Não entraremos aqui em julgamentos dessa política. Vale ressaltar, contudo, que, se diversos programas estão de fato sendo cada vez mais vendidos, as reações desse público leigo que está experimentando os sistemas com base nas expectativas muitas vezes geradas pelos próprios manuais dos produtos (associadas a resquícios dos primeiros projetos de tradução automática, nos anos 50) podem fazer com que o feitiço se volte contra o feiticeiro. Durante a redação deste trabalho, uma crítica direta ao SYSTRAN chegou à mídia através da seguinte coluna publicada na revista Veja [07/01/1998]:
Como foi visto aqui, o SYSTRAN não foi desenvolvido para traduzir qualquer tipo de texto em uma variedade de línguas e, de fato, é um dos líderes na área. Porém, foi disponibilizado em conjunto com o serviço de busca do AltaVista, que oferece ao usuário a possibilidade tão esperada de ler páginas em vários idiomas. Se, na página de apresentação do serviço de tradução do AltaVista, lermos a página sobre o sistema, constataremos que o software "não produzirá traduções perfeitas", especialmente se o texto contiver expressões idiomáticas ou não for gramaticalmente perfeito. Sabemos que essa ressalva não é suficiente para que as expectativas dos usuários correspondam um pouco mais às capacidades reais do sistema - assim, ao menos por enquanto, os usuários tanto protestarão quanto darão boas risadas às custas do sistema. Testando o AltaVista Translation Service / SYSTRANSeguindo as recomendações oferecidas no AltaVista, utilizamos seu serviço de tradução para ter acesso a notícias publicadas em outras línguas. Começamos com o inglês e com uma pequena notícia publicada na página da emissora americana CNN. Justiça seja feita, a nota é escrita em linguagem coloquial e inclui algumas expressões idiomáticas. De qualquer forma, a intenção também é medir até onde o programa é capaz de ir.
Se o leitor não for um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento desse sistema, provavelmente pôde divertir-se um pouco. Foi selecionado um novo texto, desta vez mais próximo às capacidades do programa - segundo indicado pela página que oferece o serviço -, ou seja, um texto técnico, de frases curtas e sem expressões idiomáticas. Contudo, para que a recepção do texto seja mais genuína, selecionamos um texto em alemão - idioma totalmente desconhecido pela autora deste trabalho - visando justamente experimentar a viabilidade do programa no que diz respeito a um de seus principais objetivos: permitir que as pessoas possam ter uma boa idéia do conteúdo de um texto numa língua desconhecida (obs.: o serviço oferece apenas do inglês para um certo número de línguas e dessas línguas para o inglês, de forma que o texto em alemão foi traduzido para o inglês). O texto selecionado expõe características de determinados software, segundo especificado pelo título em inglês. Eis o resultado obtido:
Se formos bastante tolerantes e compreensivos poderemos dizer que sim, é possível ter uma noção do conteúdo do texto. Porém, a julgar pela forma que o serviço é apresentado no AltaVista, não espanta que a maioria dos usuários considere os resultados patéticos. Não vamos nos alongar nestas questões. O fato é: os sistemas de tradução automática não foram e não estão sendo desenvolvidos com o intuito de traduzir textos gerais entre várias línguas - ainda que essa seja a crença do público geral, em grande parte devido à divulgação por parte dos fabricantes. anterior | topo da página | próximo
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