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Nossos trabalhos tem uma duração variada que está relacionada com os métodos utilizados. Trabalhos comportamentais levam no mínimo 2 anos. Trabalhos anatômicos feitos no NIH, USA levaram de vinte a trinta anos, mas o número de citação desses trabalhos é proporcionalmente mais altos.   A evolução dos trabalhos é mostrada na linha de tempo abaixo:

 

 

 

 

 

 

DO PANTANAL A BRASILIA: A história do Laboratório de Fisiologia da Cognição
Texto baseado nas entrevistas feitas por Wanderley de Souza, Daniele Botaro e Mario Fiorani com Ricardo Gattass em 2014

Sumário:

Ricardo Gattass atuou no ensino e na pesquisa no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, por 35 anos. Antes de se aposentar passou a atuar em política científica, como Diretor e Vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (1994-2004). Em 1998, depois de aposentado, convidado pelo reitor da UFRJ, foi pela primeira vez ao Conselho Universitário para ser apresentado como Pró-reitor de Pesquisa. De lá saiu como Pró-reitor de Pós-graduação e pesquisa. No período que se seguiu foi também Pró-reitor de Ensino de graduação e corpo Discente e reitor substituto ocasional por cerca de 8 meses. Depois que entrou para reitoria passou a presidir o Conselho Universitário (CONSUNI), o Conselho de Graduação (PR1) e o Conselho de Pós-graduação (PR2) até passar a reitoria para o novo reitor. Depois da reitoria foi para FINEP para ser superintendente para a Área de Universidades e Instituto de Pesquisa por 8 anos. Mais tarde foi Diretor da FINEP por 2 anos. Ricardo participou na implementação de um programa de infra-estrutura (PROINFRA) que apoiou as instituições de ensino e pesquisa com 2,4 bilhões de reais.

Da sua infância até a Faculdade de Medicina

Ricardo Gattass passou sua infância e adolescência em Corumbá, Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul. A cidade de Corumbá tinha um bom ginásio, mas não tinha um bom cientifico. A alternativa que todos os jovens de Corumbá, da sua geração, que almejasse fazer um curso superior, era de vir para o Rio e para fazer o curso científico. Ricardo veio para o Rio para fazer o curso científico no Colégio São José, um colégio Marista. A maioria dos jovens vinha para um colégio interno, pois eram raros os que tinham uma casa no Rio. O colégio que estava na moda à época para os rapazes era o Colégio São José Internato, na Usina no Rio de Janeiro. As moças iam para o Colégio Sion.
A rotina semanal de Ricardo era a seguinte: ele pegava o ônibus 415 que o levava de Ipanema para a Usina na segunda-feira cedo, passava a semana toda no internato. A cada duas semanas, ele saia do internato e vinha para Ipanema para visitar sua tia e madrinha, madrasta de sua mãe. Para alguém que morava com a família e estava livre em uma cidade pequena do interior, sua vinda para o São José Internato foi um episódio traumático. Ele saiu de um ambiente completamente livre para um ambiente com muitas regras e restrições do colégio interno. O ambiente do Colégio São José era cheio de regras, disciplina e rotinas, mas paradoxalmente, era um ambiente muito rico e diversificado no âmbito das ideias. Ricardo chegou ao internato para conviver com colegas de todo Brasil como o Fernando Collor de Mello, o Gereissati e outros. Fernando Collor e Abílio Baeta Neves, entre outros, frequentavam o internato vindos do norte e sul do país. Todos eram internos do Colégio São José e tinham uma convivência obrigatória de 24 horas por dia. Eles tinham que trocar ideias, estudar e competir naquele ambiente restrito.

O ensino era bom ou regular nas diversas áreas, mas a sistemática e a disciplina eram muito diferentes daquela do Colégio Santa Teresa de Corumbá, Mato Grosso. Esses três anos foram duros para ele porque era um ambiente com muitas pessoas e muita disciplina. O dormitório do grupo dos “maiores” era muito grande, tinha cerca de 80 camas em quatro fileiras e uma ala comum de banheiros. Assim, Ricardo saiu de um ambiente familiar, completamente livre para viver em um ambiente duro, estruturado e extremamente rígido.
Seu pai médico e sua mãe artista plástica tiveram uma grande influência na decisão de sua carreira acadêmica. Seu papai era um cirurgião abdominal e radiologista, um médico dedicado na cidade de Corumbá. A escolha de Ricardo pela medicina era vista uma escolha mais ou menos natural para um filho primogênito que pretendia voltar para Corumbá ao final do curso médico. Ele tinha como meta estudar medicina e se consolidar como médico, cirurgião como seu pai. Todas as férias ele saia correndo do Rio, pegava um ônibus e depois um trem para chegar em sua cidade.

Antes da construção da ponte do rio Paraguai o trem da Noroeste do Brasil não chegava a Corumbá. A viagem começava em Corumbá e ia até Porto por via fluvial. De lá pegava-se um trem da Noroeste que ia até Baurú, em São Paulo. Assim, na sua primeira viagem de Corumbá para o Rio ele teve que pegar um barco, depois um trem até Bauru. Lá ele pegava um ônibus para São Paulo, capital, e de lá um ônibus da Cometa que o trazia até o Rio de Janeiro. Em sua segunda viagem o trem já saiu de Corumbá, chegando em Baurú, São Paulo depois de 36 horas.
Ao terminar o colégio ele fez o vestibular da CESGRANRIO e passou em segundo lugar para a Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil. Ao entrar na faculdade duas coisas o vincularam intensamente ao Instituto de Biofísica, a excelência da instituição e o ensino de qualidade. Ele entrou na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha em 1966, via CESGRANRIO. Não foi pelo sistema que era muito famoso entre os vestibulandos em que o Professor Hiss e o Professor Solero faziam prova oral aos vestibulandos.

No ano de 1965 foi instituído o chamado CESGRANRIO como o vestibular único para todas as faculdades de medicina do Rio de Janeiro. Ele fez as provas de vestibular no Maracanã. Era a prova unificada da Fundação CESGRANRIO. Dentre as coincidências, estão o seu nascimento e a vinculação com a Biofísica. Seu pai se formou em 1945 e veio de Corumbá para o Rio em 1946 para fazer um curso de radiologia e tisiologia. Ele se casou com D. Marina em 1947 e Ricardo nasceu no Rio de Janeiro, simplesmente porque seus pais haviam voltado para o Rio por causa do curso de radiologia. Voltando para Corumbá ele então estabeleceu um consultório radiológico com um médico chamado Salomão Baruki.
Salomão Baruki havia sido o primeiro aluno do Dr. Chagas e era uma pessoa assim, muito chegada ao Chagas, fundador do Instituto de Biofísica. Salomão deixou a carreira científica e voltou para Corumbá para abrir uma Clínica Radiológica. Ricardo relata que Salomão nunca falou da Biofísica, na sua infância e adolescência, mas quando ele entrou na Faculdade de Medicina da Praia Vermelha, Salomão falou de uma Instituição da faculdade de Medicina que era é muito boa. Era o Instituto de Biofísica. Ele dizia que trabalhou com o Dr. Chagas, foi contemporâneo do Cesar Elias, Darcy Fontoura de Almeida e Aparecida Esquibel (que também veio de Mato Grosso). Foi só uma vez que Salomão falou da Biofísica para o Ricardo, mas o nome do Dr. Chagas ficou muito marcado na sua memória.

O Salomão Baruki era uma pessoa muito diferenciada, chegou a ser dono de uma faculdade lá em Corumbá, mas acabou falecendo estupidamente. Ele tinha uma diabetes, com glicemia alta e numa dessas idas e vindas para a Universidade, ele teve um acidente automobilístico que o levou a óbito.

Sua trajetória na Faculdade e no Instituto de Biofísica

Ricardo teve seu primeiro contato com o Dr. Chagas nas aulas de Biofísica, que tinha como assistente Cesar Elias. Em 1967, o Dr. Antônio Paes de Carvalho era o Coordenador de Graduação e foi responsável pela implantação da pós-graduação com o apoio da Fundação Ford. Ricardo se aproximou do Professor Antônio Paes de Carvalho, e começou a trabalhar com ele em um curso para monitores, coordenado pela professora Izar Oswaldo Cruz. Com Paes de Carvalho ele fez seu primeiro trabalho cientifico. O trabalho feito com coração isolado, numa preparação de Langerdoff era focado na influência de íons no espaço PR. (Influência de magnésio no espaço, no intervalo PR – foi seu primeiro resumo de Iniciação Científica).

Ricardo era dedicado aos seus estudos e sua formação acadêmica sempre teve oscilando entre ser um médico de interior ou um cientista. Depois de 1968, seu pai vendo suas opções decidiu que a partir daquele ano, em suas férias ele teria que entrar nas cirurgias como seu assistente. Ele era cirurgião abdominal muito habilidoso e Ricardo viu nesse convite uma oportunidade de conviver mais com o meu pai. Até aquele ponto, ele tinha tido muito pouco contato com o pai, que tinha uma clínica grande e era muito ocupado. Até aquele ponto ele tinha mais contato com a minha mãe que o educou e o ensinou a apreciar e desenvolver sua criatividade. Seu pai era um médico muito dedicado, com uma intensa atividade clínica e cirurgia, mas dentro do ambiente de Corumbá ele era um médico pouco diferenciado economicamente, cujo sustento vinha de sua atividade como médico. Um dia Ricardo perguntou a ele porque ele era o único médico da cidade que não tem fazenda? E ele me respondeu: -É porque gosto mesmo é de me dedicar a medicina ...

Todo ano Dr. Fadah vinha para o Rio para passar o fim do ano com a família da D. Marina e a família fazia o circuito de todos os teatros e de todos os cinemas. A vinda ao Rio era considerada por todos como um “banho” de cultura.

Sua mãe ficava muito feliz ao vir ao Rio de Janeiro. Era uma artista plástica completa que trabalhou com pintura e escultura e outras formas de artes plásticas. Sua mãe em muitos aspectos era muto parecida com a mãe de um de seus alunos e colaborador no Instituto de Biofísica o professor Mario Fiorani. A mãe do Mario, foi uma artista talentosa que profissionalizou como pintora, e foi uma artista reconhecida no Rio de Janeiro.

D. Marina começou a pintar muito cedo ao chegar a Corumbá. Suas pinturas dessa primeira fase foram quadros em tela e óleo. Ela pintou até ter ama intoxicação por chumbo. Depois da intoxicação, sua arte passou a incluir esculturas em madeira (talha) e mais tarde esculturas em cobre e ferro. Seus quadros e esculturas estão concentradas em casas de familiares e espalhadas por todo Corumbá, MS. Ao final de sua carreira ela se tornou uma artista renomada, com um acervo artístico enorme.

Depois de 1963, Ricardo começou a mexer com fazenda. Na Fazenda Morro do Chapéu ele se encontrou com um profissional que furava poços artesianos. Só depois de vários anos eu veio a saber quem ele era seu parceiro de pantanal, carinhosamente chamado de Paulinho Lobo. Paulo Lobo era um exímio mecânico e engenheiro de poços irmão do professor Luiz Carlos Lobo, sobrinhos do professor Chagas. Ele era filho de Gustavo Lobo, primo do Dr. Carlos Chagas. Paulo Lobo havia sido o primeiro mecânico do Instituto de Biofísica a época da fundação do Instituto de Biofísica. Ele era uma pessoa uma pessoa muito exigente e muito revoltada com as coisas de Corumbá, mas grande amigo do Dr. Fadah, pai do Ricardo. Ele tinha uma oficina mecânica de tratores em Corumbá, mas gostava e vivia furando poços artesianos no pantanal mato-grossense.

Ricardo o encontrou Paulo Lobo na Fazenda Morro do Chapéu, a primeira fazenda da família, furando um poço na pedra. Era um calor bárbaro e ele esbravejava cada vez que a broca improvisada quebrava... Essa fazenda na região de Porto Murtinho, foi comprada depois da enchente de 1962 tinha muita água. A fazenda foi comprada depois de uma grande enchente do pantanal, tinha um pasto pujante, mas no início do ciclo de secas ficou totalmente sem água.

Ricardo ainda era estudante quando começou a frequentar os trabalhos de gado nas fazendas. A fazenda havia sido comprada no período da cheia e estava praticamente debaixo d’água. Não havia problema de pouca, mas de excesso de água. Depois de 3 a 4 anos, iniciou um ciclo de seca e não havia água para nada. Foi aí que Ricardo conheceu Paulo Lobo. Ele era uma pessoa habilidosa, extremamente talentosa, mas muito ranheta... Ele era uma pessoa muito exigente, que só admitia fazer as coisas da forma certa. Foi assim que Ricardo conheceu Paulinho, irmão do professor Luiz Carlos Lobo.

A coincidência foi incrível de encontrar pessoas ligadas a Biofísica a mais de dois mil quilômetros do Rio de Janeiro. Inicialmente, Salomão Baruki, que foi aluno do Dr. Chagas, e depois o Paulinho Lobo, que havia sido técnico da Biofísica. Até aquele momento Ricardo tinha tido pouco contato com o Dr. Chagas. Ricardo era aluno do professor Antônio Paes de Carvalho e tinha tido pouco contacto com o Dr. Chagas era o Diretor da Faculdade de Medicina, mas logo foi para a UNESCO. Ele saiu da direção da Faculdade de Medicina e do Instituto de Biofísica e foi para a UNESCO, na França.

Ricardo teve mais contato com o Dr. Aristides Pacheco Leão quando ele foi Diretor da Biofísica, e como o Antônio Paes de Carvalho que foi seu primeiro orientador. Antônio achou que Ricardo era um bom representante dos alunos e o propôs para fazer parte do Conselho Deliberativo do Instituto de Biofísica. Assim, ele foi o primeiro representante dos alunos no recém criado Conselho Deliberativo.
Ricardo ainda trabalhando com o Antônio Paes de Carvalho, conheceu nas reuniões do conselho, o Dr. Aristides e o professor Eduardo Oswaldo-Cruz. Assim, nesse conselho ele teve uma convivência especial com Drs. Aristides e Pena Franca e seu futuro orientador Professor Eduardo Oswaldo-Cruz.

Ricardo conheceu o Professor Carlos Eduardo poco antes dele ir para Harvard, Mass. Ficou no laboratório “dos Eduardos” o Professor Eduardo Oswaldo Cruz. Mas a vida dá as suas voltas. O Dr. Antônio Paes de Carvalho não tinha lugar para todo mundo que trabalhava com ele. Trabalhávamos lá além de Ricardo, a Nádia Nogueira e o Nito, que eram seus colegas de turma. Nito era o namorado da Nadia e acabou abandonando a ciência para ser cirurgião plástico. Carlos Henrique Mayr (Nito), é hoje cirurgião plástico do Hospital de Ipanema.
Da turma de Ricardo trabalhavam ainda lá no conglomerado de laboratórios, carinhosamente denominado de “puleiro” a Maria Lúcia Fleiuss, no Laboratório do Gilberto de Oliveira Castro e o Rafael Mira y Lopes no Laboratório do Leopoldo de Meis.

Aquela turma era uma turma excepcional e a maioria deles extremamente idealista e politizada. A turma da Medicina tinha Reinaldo Guimarães, a Amanda Athaide, Nadia Nogueira, Maria Lucia Fleiuss e Roberto Musacchio, o filho de uma professora da Biofísica, Mariza Musacchio. Uma turma muito boa. Nadia Nogueira namorou o Rafael Mia Y Lopes na época em que ele foi para a Universidade de Rockfeller em Nova York. Roberto se casou com Amanda. O grupo tinha ainda o Noronha e o Callache que haviam entrado um ano antes. foi um ano antes. Era uma turma de convivência muito agradável e com um grande desejo de fazer um Brasil melhor...

A maioria das pessoas que gravitavam pelo Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina era muito politizada. A polarização e a politização foram uma resposta que os jovens com muito idealismo viam para fazer face a ditadura. No meio do curso, nós estávamos em plena ditadura com um pessoal muito combativo.

Apesar de combativo, o grupo criava um ambiente extremamente agradável. Junto ao diretório acadêmico havia a sala de música da Faculdade de Medicina da Praia Vermelha. Ocasionalmente, nas sextas-feiras, eu ia para lá para encontrar nomes como o do Chico Buarque, que fazia Faculdade de Arquitetura na época. A sala ficava entre a sala da Congregação e o Diretório Acadêmico próximo a barbearia da Faculdade de Medicina. Ao lado do centro acadêmico tinha a sala de música.

A sala de música era aberta a todos. Quando chegava a sexta-feira eu achava um jeito de conviver com aquela turma. Ricardo tinha aulas de higiene nas sextas-feiras e ao final da aula ele tinha um passeio obrigatório pela sala de música. Ali ouviram gente muito boa como Chico Buarque e Caetano Veloso. Elizete Cardoso, que era a madrinha do Centro Acadêmico, uma vez por mês, ela aparecia por lá para cantar. Esse era o ambiente da Praia Vermelha, onde Ricardo e sua turma gravitavam.

Ricardo lembra que uma vez viu Chico Buarque e como era seu fã dos Festivais de Música da televisão foi falar com ele. Ele diz que o aluno da arquitetura Chico Buarque era uma pessoa acanhada com um talento fenomenal. Ele fugia para Praia Vermelha porque não queria ficar aqui no ambiente inóspito da Arquitetura do Fundão.

Ricardo foi monitor de Fisiologia desde 1968 até entrar na pós-graduação em 1971. A coordenadora dos monitores era a professora Isar Oswaldo-Cruz.

Em 1969, o professor Antônio Paes de Carvalho ficou com muitos alunos no laboratório. Tinha o Ricardo, Nadia, Nito, Rafael Mira y Lopes e a Maria Lucia; todos da turma que tinha sido recrutada pela professora Isar Oswaldo-Cruz na monitoria da Fisiologia. Depois de passar um período no laboratório do Professor Antonio Paes de Carvalho, todos foram chamados para uma reunião. Nessa reunião o professor Antonio (APC) disse: “A Maria Lucia vai trabalhar com o doutorando Gilberto de Oliveira Castro, a Nadia e o Carlos Henrique Mayr ficam em meu laboratório, Rafael Mira Y Lopes vai para o laboratório de Leopoldo de Meis e esse árabe de Mato Grosso deve sair pois ele vai voltar para Mato Grosso e abandonar a ciência para ser médico...”

O Professor Walmor Chagas que também tinha um Laboratório no “puleiro” saiu para os Estados Unidos e não voltou. Quando o Major Brasil veio para a Biofísica, ele ocupou a sala do Walmor. Isso foi um pouco antes do Professor Leopoldo de Meis sair de Manguinhos, para ocupar um espaço lá no “puleiro” da Praia Vermelha. Leopoldo ele veio fazer uma revolução nos laboratórios. Chegou querendo trabalhar, querendo espaço e querendo material. Ele entrou no laboratório dos Eduardos e “tomou emprestado” (para nunca mais devolver) todas as pipetas e vidrarias com o argumento que “os Eduardos” não faziam bioquímica e não precisavam de pipetas ...

O Leopoldo era uma pessoa excepcional e muito decidido. Na reunião do Antônio, o Leopoldo apareceu e declarou que precisava de estagiário e que ficava com o Rafael Mir Y Lopes. O Gilberto, que estava começando a tese dele, falou: - Eu vou ficar com a Maria Lúcia Fleiuss; e o Antônio disse: - Ah, eu vou ficar com o casal Nádia e Nito. E o Gattass sobrou”.

O Eduardo Oswaldo-Cruz estava passando e falou: “O que que é? Está sobrando alguém aí? “A porta de meu laboratório está aberta”. O laboratório tinha uma porta que abria para fora e lá trabalhavam os professores Eduardo Oswaldo-Cruz e Carlos Eduardo Rocha Miranda.
Enquanto Ricardo trabalhou com Dr. Antônio ele nunca via aquela porta aberta, ela estava sempre fechada. Seu Oliveira, responsável pelas importações e serviços gerais da Biofísica dizia que aquele espaço era a “Meca”. Para você entrar, você tinha que limpar os pés e fazer reverência. O Seu Oliveira era muito gozador, mas tinha uma grande experiencia de vida, conhecia muitos vinhos e tinha muita sabedoria.
Eduardo Oswaldo-Cruz passou pelo Antônio e disse “Não! Se está sobrando algum aluno o manda vir conversar comigo”. Ricardo estava lá, e disse: “- Eu estou por aqui, pronto para conversar com o senhor quando for conveniente... quando for possível, o senhor marca uma hora que estarei lá.”

Eduardo perguntou: “- De onde que você é?”  e Ricardo respondeu “Eu nasci aqui no Rio, mas morei toda a minha infância e adolescência no Mato Grosso.” - E o que você faz?  Ricardo disse: “- Eu estudo medicina”.  “Você já fez o curso de neuro?” E ele respondeu: “Sim, já fiz, mas sei que o senhor e o Professor Carlos Eduardo vão oferecer o curso de neuro no ano que vem. E estou considerando fazer o curso de novamente porque ouvi dizer que o senhor, e seu colega professor Carlos Eduardo, estão chegando de volta de Brasilia e que vocês vão dar um curso de neuro para a Fisiologia”.

Ao entrar no laboratório Ricardo encontrou Aglai Pena Barbosa de Souza, Iancy de Mello, e Francisco Maria de Monastério. Não tinha lugar para sentar, mas tinha uma prancheta no meio da sala.

Francisco Monastério veio para o Laboratório do Eduardo para fazer sua tese. Ele acabou trabalhando com Gustavo de Oliveira Castro para fazer microscopia Eletrônica, mas ele queria estudar a eletrofisiologia do tecto ótico de aves com Eduardo Oswaldo-Cruz. Francisco Monastério estudou a retina e o teto ótico de pombo e fez sua tese com o professor Eduardo Oswaldo-Cruz.

Eduardo apontando para Ricardo falou “a sua mesa é essa prancheta aí”. Ricardo concordou dizendo que ele não precisava de mesa mesmo.
A Aglai e Iancy vieram da PUC e eram muito diferentes. O Francisco era mais acessível e eu comecei a conversar com ele e na outra semana eu já estava ajudando o Francisco na parte experimental de sua tese. Aliás, Ricardo fez 17 experimentos com Francisco no pombo. Ricardo fez o um sistema para segurar a cabeça do pombo e registrou muitas células com Francisco. Esse foi o único trabalho científico que ele fez na Biofísica e que não publicou. Isso porque o Francisco fez a tese e aí nós fomos para Santiago para apresentar o trabalho num Simpósio de Visão. Lá Francisco conheceu o Peter Guras e foi trabalhar no NIH nos EUA com ele. Ele levou os dados para escrever o trabalho, Ricardo nunca mais ouviu falar desses dados. Essa saída abrupta do Francisco de Monastério do laboratório deixou uma quantidade enorme de trabalhos anatômicos e eletrofisiológicos que ficaram sem publicar...

Sua trajetória científica

Ricardo conta que sua vida acadêmica havia pouco planejamento fixo e as coisas iam acontecendo e se ramificando!  Ele veio para a Faculdade de Medicina para ser cirurgião (porque seu pai era cirurgião) mas se tornou um bom clínico. Aí começou a estudar o eletrocardiograma e o efeito dos íons potássio no espaço PR com o professor Paes de Carvalho. Ao terminar foi estudar células de um núcleo talâmico do sistema somestésico (do tato) no laboratório do professor Eduardo Oswaldo-Cruz. Fez seu primeiro trabalho em 1971, com a Aglai e o Eduardo. Eles registraram a atividade do núcleo somestésico ventro basal do tálamo do gambá e descreveram seus campos receptores.
No início o laboratório só estudava marsupiais e aves (gambá e pombo). Ricardo começou a trabalhar com os primatas na sua tese de doutorado. Ele decidiu que queria trabalhar com um modelo mais próximo do homem, e foi assim que os estudos dos primatas começaram. Hoje, retrospectivamente nós vemos que a linha de primatas teve muito do dedo do professor Carlos Eduardo Rocha Miranda. Carlos Eduardo trabalhou com primatas em Harvard e ao chegar teve uma grande influência nas linhas de pesquisa, assim como em todo o ambiente do laboratório “dos Eduardos”. Carlos Eduardo tinha um jeito bem diferenciado de abordar os problemas científicos. O Eduardo sempre foi um cientista eclético, muito habilidoso e talentoso, mas Carlos Eduardo tinha uma dimensão diferente, e uma estratégica diferente. Formalmente, ele nunca orientou Ricardo, mas teve um papel fundamental em sua formação acadêmica.  Ele influenciava a ciência com primatas no convívio e nas discussões.

O Laboratório “dos Eduardos” tinha um ambiente científico extremamente rico. O Carlos Eduardo tinha voltado do laboratório do Charles G. Gross (Harvard), onde fez importante trabalho no córtice temporal, descrevendo as chamadas “face cells”, células de reconhecimento de objetos. Essa descoberta revelou uma propriedade da organização do sistema de memória em primatas, que considero um ícone da neurociência moderna. Este ano foi concedido o prêmio Nobel para o Dr. John M. O'Keefe pela descrição das células de localização espacial do hipocampo (place cells). Seria muito justo se esse Prêmio Nobel fosse dividido com Charles Gross e Rocha-Miranda pela descoberta deles das células de reconhecimento de faces do sistema cognitivo (face cells). Essa divisão do prêmio seria justa porque conceitualmente Carlos Eduardo e Gross descreveram células com propriedades cognitivas antes do O'Keefe. O professor Carlos Eduardo sempre foi um mestre e um talento científico exuberante.

Esse artigo seminal foi escrito por Gross, Rocha Miranda e Bender. Depois desse trabalho, criticado por David Hubel, que o estudo do reconhecimento de objetos e faces evoluiu. Pesquisadores do Japão e dos Estados Unidos passaram a estudar células de reconhecimento de faces (face cells) no córtex temporal de primatas. Robert Desimone, ao terminar sua tese de doutorado, estudou com Charles Bruce as células de reconhecimento de faces e introduziu novos conceitos. Ele criou um paradigma que eu ajudei a criar em Princeton. Basicamente tratava-se de pegar uma fotografia de um macaco, picota-la, remonta-la aleatoriamente para ver qual o componente era importante para a resposta. O papel do Carlos Eduardo valeria ser comentado em um artigo no Brasil como uma contribuição fundamental da neurociência brasileira.
Esse reconhecimento corregeria uma questão de justiça. Ricardo declarou uma vez que tentaria fazer qualquer coisa para homenagear o meu grande mestre e amigo professor Carlos Eduardo Rocha-Miranda. Devemos registrar que o Carlos Eduardo era um cientista exemplar, de uma lisura intelectual, na opinião de Ricardo, laureável com o Prêmio Nobel.

Ricardo declarou a professora Eliane Volchan que tinha certeza de quando ela foi trabalhar com Gilbert no laboratório do prêmio Nobel Torsten Wiesel, que ela ensinou a eles o rigor científico, o cuidado de fazer um protocolo preciso, porque ela tinha saído de um laboratório de um “Prêmio Nobel” o Carlos Eduardo Guinle de Rocha Miranda.

Do ponto de vista científico e intelectual o professor Carlos Eduardo Rocha-Miranda, para Ricardo um prêmio Nobel não reconhecido por questões políticas. Ele chegou no Brasil depois de ter trabalhado com os primatas, valorizou o modelo primata para Ricardo insistindo que ele teria que trabalhar com macacos (primatas não humanos) porque eles eram mais próximos do homem.

Ele sugeriu encorajou Ricardo a fazer o estudo do núcleo pulvinar, que acabou sendo seu projeto de tese de doutorado. Carlos Eduardo havia programado fazer o estudo do pulvinar com David Bender. Ricardo e Bender acabaram descrevendo a topografia e as propriedades de unidades do pulvinar por causa do Carlos Eduardo. Do ponto de vista intelectual, Carlos Eduardo foi que valorizou o modelo dos primatas para Ricardo.

Ao voltar para o Brasil, Carlos Eduardo escolheu estudar o desenvolvimento do sistema nervoso em um modelo bem brasileiro. Ele disse que no Brasil ele iria escolher um modelo de estudo do desenvolvimento do sistema nervoso que era bem brasileiro. Assim ele iniciou seus estudos nos gambás, porque era o único modelo animal que se apresentava fora do útero (no marsúpio) em uma fase muito precoce do desenvolvimento. Ele elegeu um modelo animal, abundante na floresta da tijuca, ideal para o estudo do desenvolvimento do cérebro. Nessa mudança no seu programa científico, Carlos Eduardo mostrou a sua genialidade científica.

Wandeley de Souza fui diretor do Instituto de Biofísica por causa do Carlos Eduardo. Carlos Eduardo era o vice-diretor do Antônio Paes de Carvalho e segundo a tradição iniciada por Aristides Leão, o vice diretor assumia a próxima gestão. Depois de tudo acertado no Conselho Deliberativo, Carlos Eduardo declarou ao Antônio que ele não havia nascido para esse cargo. Então Wanderley de Souza que era o coordenador de pós-graduação teve que se apresentar como Diretor. Carlos Eduardo não teve pretensões de ser Diretor da Biofísica. Ele queria fazer uma ciência de qualidade e contribuir para o avanço da fronteira do conhecimento. Aliás, isso era uma marca da geração que encontrei no departamento de neurobiologia onde nenhum dos professores da primeira e segunda gerações aceitou fazer concurso para Professor Titular, porque preferiam se dedicar ao avanço da ciência.

Carlos Eduardo, na sua volta de Harvard, contribuiu para expandir os horizontes do laboratório e ele sugeriu para Ricardo iniciar o estudo do sistema visual de primatas não humanos. Ricardo então mudou do modelo de marsupiais para estudar o tálamo do Cebus apella. Ao declarar sua intensão ao seu orientador, Eduardo Oswaldo-Cruz, ele inicialmente recusou dizendo que isso seria muito complicado. Eduardo disse, não temos biotério de primatas e nem temos gaiolas grandes para primatas. Ricardo então com a ajuda de Raymundo Bernardes deu uma volta nos diversos departamentos e nos diversos andares da Praia Vermelha. Eles acharam 3 gaiolas grandes para grandes animais que estavam num espaço, embaixo da histologia. As gaiolas grandes estavam lá, jogadas e enferrujadas.

Ricardo estava terminando o curso médico e começando a pós-graduação na Biofísica. O professor Carlos Eduardo voltou do exterior no meu 5° ano de medicina e a essa altura a expectativa de Ricardo de ser cirurgião já estava sendo abalada. Ele foi ainda frequentar as aulas de Cirurgia Geral. Nas suas visitas a Corumbá, ele auxiliava seu pai nas cirurgias. Essa rotina se repetiu em todas as férias. Ele saía de férias, deixava o Rio e depois de uma longa viagem de ônibus e trem chegava em Corumbá pronto para começar a trabalhar. No dia seguinte de sua chegada, às 6 horas da manhã, ele estava no Hospital de Caridade da Cidade, com seu nome no quadro de médicos escalados para operar. Ele alega ter feito, provavelmente umas 100 cirurgias de hérnia, apendicite, vesícula biliar e reconstituição de períneo, auxiliando seu pai.
Ele fez muitas cirurgias eletivas como hérnia, períneo, vesícula com seu pai em Corumbá, MS. Cirurgias emergenciais como a retirada do apêndice, reconstituição de facadas ou tiro foram mais raras.

Ricardo manteve uma grande dedicação ao meu curso médico, por que não sabia como seria o futuro. Já no 5° ano chegou a falar ao professor Eduardo Oswaldo-Cruz que ele estava querendo fazer o internato em cirurgia vascular. Nesse momento Eduardo falou: “Não, está na hora de você fazer a pós-graduação”. Ricardo argumentou com Oswaldo-Cruz que não estava pretendendo fazer a pós-graduação naquele ano. Ele estava querendo é fazer internato em cirurgia vascular. Eduardo então disse: “- Bom, então nós chegamos em um momento de decisão porque aqui no laboratório não tem lugar para cirurgião”. Nesse momento, Ricardo ficou numa encruzilhada ...

Essa situação foi importante para Ricardo que ainda não tinha feito uma decisão consciente. Ele não sabia se em Mato Grosso eu teria espaço para ser cirurgião vascular. Ele sabia que se eu fosse voltar para o interior ele tinha de ser um clínico geral generalista. Ele havia se preparado para ser um clínico generalista, e sabia que gostava de trabalhar como um plantonista no Pronto Socorro. Ele havia passado no concurso da SUSEME e havia iniciado o plantão no Hospital Sousa Aguiar.

Essa decisão causou problemas para ele no laboratório com o professor Eduardo, que não aceitava nem os plantões obrigatórios, e reagiu mal ao saber de seus plantões de pronto de socorro que ele tinha conseguido, via concurso, na SUSEME. O Eduardo nunca entendeu que Ricardo queria ter uma boa formação médica. Ele achava que Ricardo precisava ser um bom cientista e seguir uma carreira acadêmica. Esse assunto nunca terminava ...

No 6° ano eu tinha que fazer o internato do curso de medicina. A congregação da Faculdade de Medicina decidiu naquele ano que o internato poderia ser em uma especialização em cadeira básica ou em uma especialidade médica. Ricardo iniciou o internato e a pós-graduação ao mesmo tempo. Ele fez estágios em hospitais ao mesmo tempo que iniciava como ouvinte os cursos de pós-graduação.

Como já tinha um trabalho científico publicado ele foi selecionado para fazer o doutorado direto na pós-graduação de Biofísica. Ele escolheu um assunto desafiador para o doutorado que exigiu muito esforço dele assim como custou para David Bender a cerca de 3 mil quilômetros do Rio de Janeiro. Nós decidimos entender o que o núcleo pulvinar de primatas fazia. Até hoje ninguém sabe completamente o que o pulvinar faz. Ricardo descreveu áreas com organização visuotópica no pulvinar, suas conexões e propriedades neuroquímicas. No entanto, apesar de seus trabalhos não há um bom modelo de processamento ou uma boa proposta para a função do núcleo pulvinar de primatas.
Ele conseguiu os primeiros macacos capuchinos, Cebus apella, em Brasília. Na Praia Vermelha Ricardo e Bernardes haviam conseguido essas três gaiolas enormes e usou o espaço vago num alpendre na Faculdade de Medicina. No meu do doutorado o Instituto mudou para o CCS na Cidade Universitária da Ilha do Fundão.

O doutor Aristides tinha feito um biotério ao lado da casa dos estudantes, depois na rua de trás.  Você passava pelo restaurante e saía na rua de trás e aí achava um biotério grande atrás da Faculdade de Medicina na Praia Vermelha. Mas nós não pudemos usar aquele espaço pois o Dr. Aristides mantinha lá jacarés. Aliais, há uma estória de um jacaré que fugiu, mas essa estória envolve o Raymundo Bernardes (Seu Raymundinho) e o Alexandre, com assessoria do Roberto Lent.

O criadouro de Primatas

Os primeiros macacos foram recebidos de doação do Zoológico de Brasília, DF. Ricardo foi ao Planalto Central, e encontrou um funcionário do zoológico que havia levado dois macacos capuchinos (Cebus) para criar em casa. Um dia os macacos ficaram raivosos e ele não aguentou mais cria-los em casa e queria doa-los a qualquer custo. Os macacos foram parar no Zoológico de Brasilia e Ricardo acabou indo até lá, colocou os Cebus em uma caixa e os trouxe para o Rio.

Ato contínuo Ricardo fez um processo para cadastrar O Instituto de Biofísica como criador de primatas e depois disso, a quantidade de macacos prego que foi doado para a gente foi enorme. Nós continuamos a receber do IBAMA, e o nosso criadouro de primatas se consolidou. No início, o biotério era pequeno e todas as atividades dependiam dos pesquisadores. Com o Funtec pudemos contratar os Srs. Gervásio e Gilbralta para cuidar dos animais. Foram construídas baias revestidas de azulejos para facilitar a limpeza. Mandamos construir novas gaiolas em aço inoxidável e reservatórios individuais de água. O IBAMA definia os procedimentos e a comida dos animais. Depois de sua volta do Pós-doutorado em Princeton, Ricardo ia semanalmente ao supermercado (Sendas) ou ao Hipermercado atacadista (Macro) para comprar frutas, legumes, pão de forma e leite para os macacos. O biotério tinha sempre uma geladeira cheia de bananas, laranjas, abobora e batata doce e um fogão para preparar os legumes. Depois de dez anos, o sistema de compras do Instituto foi aperfeiçoado e Sr. Carlos passou a comprar as frutas e legumes no Seasa. Tinhamos até acasalamento programado dos primatas e no terceiro ano da volta dos Estados Unidos nasceu o nosso primeiro animal, que foi denominado de Chiquinho e passou a ser mascote do Criadouro de Primatas.
Depois que o Luís Carlos Silveira e o Cristovão Picanço-Diniz passaram pelo Instituto de Biofísica, nós passamos a receber animais lá do Pará, incluindo primatas.

A tese de doutorado

A tese de doutorado do Ricardo foi uma epopeia cheia de enigmas e surpresas. O primeiro animal chamava-se Arthur, que era uma homenagem ao Arthur da Costa e Silva, um ex-presidente. Apesar dos esforços, os três primeiros animais não tiveram nenhuma célula com resposta visual no pulvinar. A localização do núcleo era feita por coordenadas estereotáxicas, as células disparavam, mas não apresentavam nenhuma resposta visual. O quarto animal estudado denominado de Roberto (em homenagem ao professor Roberto Lent) apresentou resultados fantásticos. Ricardo ficou muito animado pensando em terminar a tese com o estudo de mais dois animais. A tese tratava do estudo de registros da atividade elétrica de neurônios isolados do tálamo do Cebus. O eletrodo (naquela época estudávamos a atividade de um conjunto de neurônios com um eletródio) era posicionado no tálamo do animal e registrávamos a atividade elétrica com um pré-amplificador feito no laboratório e um sistema de som também feito na oficina eletrônica do laboratório. Depois do animal Roberto, eu tive 17 animais que não deram nenhum resultado, nada. Esse período coincidiu com o da transferência do laboratório de lá para Fundão. A mudança deu tanta confusão, que tive que remontar um novo sistema de registro. Perdemos muito tempo com essa atividade. O professor Eduardo que era um perfeccionista, quis fazer uma nova sala de experiência com um sistema de estimulação baseado num banco ótico e interfaceado com o mini-computador PDP-12, que havia sido importado por ele e o professor Carlos Eduardo.

A nossa vinda ao fundão

O meu mestre Eduardo Oswaldo-Cruz era um cientista eclético, completo e gostava das coisas perfeitas. Ele curtia fazer um novo desenho mecânico para otimizar um processo ou idealizar novos equipamentos para tornar o dado mais preciso. Seu talento e compulsão pela perfeição nos fez montar uma nova sala de experimento com quase 90% dos equipamentos construídos na Biofísica. Ao final de minha tese, meu currículo havia crescido em desenvolvimento de novos equipamentos suplantando minha produção científica. A Sala de Experimentos II ficou pronta, com aterramento correto e condições de registro excepcionais. Mas, gastamos muito tempo até termos o sistema de novo funcionando e voltar a registrar e obter novos dados. Essa etapa foi muito árdua para Ricardo, pois embora fosse divertido construir novos equipamentos com o Major Brasil e escrever programas em assemble com Carlos Eduardo seu tempo de doutorado estava acabando. Ele só não abandonou a tese porque o animal Roberto, havia dado resultados excepcionais e muito claros.

Cada animal era estudado por seis meses e depois o animal era eutanasiado para podermos fazer a histologia da área estudada. Os cortes histológicos corados pelo método de Nissl eram usados para achar a trajetória das penetrações. No início nós fazíamos experimentos de 72 horas e eu dormia no laboratório. Quando Ricardo veio para o Fundão era impossível fazer um experimento de 72 horas, então ele passou a fazer esses experimentos de 12 horas em que o animal era retirado da anestesia, recuperado e voltava ao biotério ao fim do dia. Ricardo ficou surpreso ao ver que o animal estava bem acordado e comendo depois do experimento. No experimento o registro parava de funcionar depois de 4-5 horas de seu início. Ao final do dia eu recuperava o animal e no outro dia o animal estava ótimo. O animal parecia que havia dormido bem, comido bem, não tinha nenhum problema e estava lá recuperado no biotério. Passamos então a fazer experimentos de 12 horas. Nós estudávamos cada animal em uns 10 experimentos. Eu já estava desistindo depois de fazer 170 experimentos com poucos resultados. Aí ele descobriu que o pulvinar “dormia” depois de quatro horas ...

E nessa época tinha a ajuda do mestre Raymundo. Mestre Raymundo Francisco Bernardes. Ele ajudou muito, principalmente na fase em que nada estava funcionando. Ele chegou a falar: “Olha Ricardo, eu acho que esse seu projeto está muito complicado, porque você não escolhe um outro mais simples?”

Ricardo retrucou e propôs ao Raymundo várias formas de “acordar” o pulvinar. Ele disse que não era possível que um animal apagasse depois de 3-4 horas (com cerca de 2 horas de registro). Ricardo pediu sugestões para acordar o pulvinar e o Raimundo falou: “- Porque você não chacoalha o animal para ele acordar?” Ricardo intrigado respondeu: “Raymundo, como é que eu vou fazer para chacoalhar o animal sem interromper sua anestesia?”

Raymundo havia dado uma ideia ótima só faltava achar uma forma de operacionaliza-la. Ricardo foi a Mato Grosso, e trouxe de lá chocalhos de rabo de cascavel. Eles sabiam que os macacos tinham pavor de cobra.
Ao chacoalhar rabos de cascavel no ouvido do animal, eles descobriram que o som do chocalho tirava o animal daquele estado letárgico e quando se “acordava“o pulvinar, as respostas eram magnificas. Som de cascavel, toques suaves nos membros superiores ou na face do animal acordava o pulvinar do Cebus e as respostas ficavam lindas. Aí Ricardo fez mais experimentos em 5 ou 6 animais e consegui terminar sua tese. Ele defendeu sua tese em fevereiro de 1976.

Ao defender a tese foi contratado como professor pelo sistema do MEC-DAU. O professor Penna-Franca manteve o contrato MEC-DAU até Ricardo fazer o concurso para professor Assistente na UFRJ.

Ricardo considera que sua trajetória científica foi surpreendente e imprevisível. Em 1971 ele estava com os dados do animal Roberto prontos e pensou que ia defender o Doutorado em 1972. Ricardo tentou fazer 17 experimentos antes de mudar para o fundão mais os experimentos não trouxeram nenhum resultado.

Chegou a hora de fazer a mudança. Nós fizemos a mudança para o Fundão e eu fiquei brigando por 3 anos até recomeçar os registros. A luta foi insana até conseguir um jeito de fazer o experimento funcionar. Nos últimos 5 meses de 1976 ele fez mais 2 trabalhos do pulvinar que publicou, depois de descobrir como “acordar” o animal.

O professor Carlos Eduardo na sala entrou na sala, viu nosso método de “acordar o pulvinar” e achou incrível a resposta da célula. Ele disse que tinha uma aluna Eliane Volchan (a peixinho durado) que havia feito um programa muito interessante para estudar a atividade rítmica das células. Esse programa era chamado de CLOOGE e permitia ver em tempo real a ritmicidade de células. Nós estávamos na sala nova de experimento que tinha a interface com o PDP-12 e Carlos Eduardo então carregou o programa que começou a apresentar a atividade rítmica das unidades do pulvinar. Ele teve que sair e não pode ficar para ver o resultado.

Na outra semana Ricardo sentou com Carlos Eduardo declarou que com o programa ele havia entendido o que estava acontecendo no pulvinar. Ricardo então propôs ao Carlos Eduardo que ele colaborasse nesse trabalho que usaria a ferramenta que ele e Eliane Volchan haviam desenvolvido. Ricardo argumentou que o trabalho não teria sido possível se ele não tivesse chamado a atenção para a ritmicidade das células. Ele não aceitou o argumento e não consegui fazer que o Carlos Eduardo aceitasse ser co-autor do trabalho. Acabei publicando o trabalho com o Eduardo e a Aglai. Ricardo deixou no entanto, consignado os agradecimentos ao Carlos Eduardo e a Eliane Volchan sem os quais aquele trabalho não teria sido feito.

Mas, minha colaboração com o Carlos Eduardo só veio posteriormente em 1990 na tese de doutorado do professor Mário Fiorani. Mário havia terminado sua discertação de mestrado em MT, e estava estudando V1 quando descobriu respostas na região de representação do ponto cego. Eu estava ausente, e o Mario chamou o Carlos Eduardo para ver aquela anomalia. Ele foi aquela cabeça fria, completamente descompromissada, mas com o “feeling” intelectual de um prêmio Nobel que vem aí e fala: “-Essa é uma nova propriedade dos neurônios do córtex visual ... Isso aqui é assim.”

Ricardo estava fazendo uma visita a Princeton e Mário estava ajudando o Marcelo Rosa a registrar em V1. Era o trabalho do Marcelo Rosa que precisava mapear o ponto cego. Era uma coisa assim muito rápido, a toque de caixa, era um olho o outro olho, um registrava o outro mapeava, numa atividade que parecia uma produção em série. E estava conosco a estagiária Maria Carmen Piñon (Carminha), mapeando e Mario chegou na sala e ficou olhando e disse: “-Você está fazendo alguma besteira. Porque você mapeando campos receptores no ponto cego.” Carinha retrucou: “-quem plotou o ponto cego foi você.” Ai os dois saíram para almoçar e deixaram Mário lá refazendo a projeção do ponto cego e não achou nenhum erro. No dia seguinte quando voltaram a mapear campos notaram que o disco ótico estava no mesmo lugar. Nessa hora Mario Fiorani foi procurar o Carlos Eduardo, e como ele não estava no fundão ele pegou sua moto e foi até Copacabana pegar a sua filmadora para registrar o as imagens de campos sendo mapeados no ponto cego, pois todos diriam “vocês estavao fazendo alguma besteira.” Quando Mário voltou o Carlos Eduardo já estava no fundão e ele filmou, pegou a filmagem e mostrou ao professor Carlos Eduardo. Carlos Eduardo parou o que estava fazendo e foi para a sala de experiência. Lá, testou, testou ... e continuou testando. Aí depois de 1h, o Carlos Eduardo disse assim: - Não é que você tem razão? Essa célula está respondendo mesmo dentro da projeção do ponto cego. Vocês estão fazendo tudo certo!
Ricardo estava voltando dos Estados Unidos quando chegou Mário disse: - Ricardo eu quero mudar a minha tese de doutorado. Eu estava estudando a área MT, mas quero passar a estudar o ponto cego. Aí o Ricardo ficou olhando o registro e disse... “a anatomia mostra que não existem fotorreceptores no ponto cego. Não quero saber que besteira vocês fizeram, mas não me fala mais disso.” Mário retrucou, mas Ricardo confirmou: “- Não, eu não quero saber.”
Mario então insistiu, “... poxa, eu mostrei para o professor Carlos Eduardo e ele achou legal, falou que até valia apena mudar a minha tese. Ricardo parou e disse: “Se o Carlos Eduardo falou isso, então faça outro experimento e me chama”. A partir daquele momento Ricardo começou a pensar que aquilo poderia ser razoável porque “... passou pelo o crivo do Carlos Eduardo.”

Carlos Eduardo era um cientista de primeira grandeza. Ele não pré-julgava nada em ciência ou no relacionamento diário. No laboratório ele pegava o projetor do estímulo visual e ele ia fazendo o julgamento do que a célula estava fazendo. Ao final, ele desenhava na tela o que ele achava que era. O que o professor Carlos Eduardo fazia era uma pesquisa completamente sistemática e descompromissada. Quando ele olhava para uma nova célula, era como se ele limpasse o quadro negro de sua cabeça e começava uma nova pesquisa. Ele era incrível e extremamente preciso!

O laboratório “dos Eduardos” na reestruturação da Biofísica do Fundão havia desmembrado o laboratório em dois: Neurobiologia I e Neurobiologia II. No entanto, nessa época o professor Eduardo Oswaldo-Cruz havia ido para a Casa do Brasil em Londres, UK e tinha deixado a Aglai como chefe de laboratório da Neurobiologia I. Mas, o grande mentor dos Laboratórios foi o professor Carlos Eduardo. Como eu sempre trabalhei muito bem com a Aglai, que foi minha parceira em muitas realizações no Laboratório, a escolha de Eduardo em sua saída não me causou nenhuma surpresa ou incomodo.

Quanto ao laboratório de Ricardo a trajetória de novo, foi casual ou aleatória. A forma de como ele foi criado foi o seguinte: Ricardo muito cedo foi eleito Chefe do Departamento de Neurobiologia, hoje Chefe de Programa. Assim, Ricardo foi então feito Chefe do Departamento sem ser chefe do laboratório. Como os membros do departamento queriam fazer Ricardo de chefe, acharam uma solução: Gustavo de Oliveira Castro (Babinho) era chefe do Laboratório de Neurobiologia III, mas já tinha declarado que não queria continuar no laboratório. Ricardo então propôs ao Babinho, que ele ficaria como chefe do seu laboratório, mas ele continuaria no seu laboratório, como se fosse o chefe. Aí tudo ficou certo frente a Biofísica. Formalmente Ricardo passou a ser o chefe da Neurobiologia III, com o “Babinho” lá dentro e ao mesmo tempo seria o Chefe de Departamento. Babinho não estava bem de saúde na época, e vinha esporadicamente ao laboratório.

O Eduardo, desde que falou em ir para Brasília e depois em sair do país, deixou claro que não iria passar a chefia de laboratório para Ricardo. Eduardo desde o início falou: “Você tem uma trajetória diferente, está trabalhando com primatas, o seu laboratório é outro.” E Ricardo concordou. Acho que isso nunca fez nenhuma diferença para ele, nem como cientista ou como aluno dele. Ricardo sempre valorizou suas condições de trabalho, se as tivesse tudo estaria bem.

Aglai inicialmente usou a sala do Eduardo, mantendo todos seus pertences lá. Quando ele resolveu aposentar ele fechou a sala como estava e ela só foi aberta quando Rafael Linden ampliou seu laboratório. O laboratório de eletrofisiologia do Eduardo Oswaldo Cruz, era usado por Ricardo e a histologia era feita no laboratório do Babinho. Ricardo usava a antiga sala de escritório do Babinho até ele se tornar professor titular da UFRJ. Assim, todos os alunos do Ricardo faziam a histologia no Laboratório Neurobiologia III (Laboratório herdado do Gustavo de Oliveira Castro) e usavam a eletrofisiologia (no Laboratório da Neurobiologia I, que era do Eduardo Oswaldo-Cruz). Com a saída do Eduardo para a Inglaterra em 1980, esse arranjo perdurou até a aposentadoria da Aglai em 1990.

O professor Eduardo ao sair disse ao Ricardo: “- Olha, quem fica com a chefia do laboratório é a Aglai.” Ricardo sempre trabalhou muito bem com a Aglai e ela ficou como chefe do laboratório. Nós usávamos as salas da eletrofisiologia e faziamos dos instrumentos de eletrofisiologia. Como chefe de Departamento Ricardo fazia transformações graduais no departamento de neurobiologia. Ricardo foi chefe do departamento no início, e depois voltou a ser chefe de novo e depois da viagem ao NIH foi chefe de novo. Na primeira vez ele criou novos espaços e oficializou várias chefias. A primeira foi a da Professora Leny Cavalcante que foi feita chefe do laboratório no espaço do laboratório que era do professor Antônio Coçeiro, depois foi o Professor Rafael Linden, chefe de um espaço criado com a reformulação dos banheiros, e finalmente nessa primeira fase o professor Roberto Lent foi feito chefe de laboratório num espaço que incluía os nossos escritórios e o espaço da oficina de eletrônica, com a saída do major Roberto Oscar Brasil.

Com pequenas transformações Ricardo criou espaços para novos laboratórios. Ele diminuiu seu espaço para criar o laboratório da professora Jan Nora Hokoç. Assim, nessa época a alocação de espaços era muito dinâmica...

Ricardo disse uma vez que o departamento era muito dinâmico. “Nós fazíamos o mínimo de modificação para criar um novo laboratório. O que era necessário para criar o laboratório do Roberto Lent? Se houvesse um módulo e meio pouco usado achava-se um espaço de escada para fazer dois módulos e criava-se um laboratório. Eu lembro que o Rafael Linden, na hora de criar o laboratório do Rafael Linden, tinha um módulo e aí eu falei: “- Vamos reformular os banheiros e liberar este módulo de banheiro aqui.” E reformulamos o banheiro e, com mais um módulo, criamos o laboratório do Rafael Linden e a assim sucessivamente. E os espaços que não eram operacionais foram acabando. Como tínhamos uma oficina mecânica lá em cima, e havíamos organizado uma super oficina para o Instituto, acabou-se com a oficina mecânica e esse pedaço passou a ser do laboratório do Rafael. E assim, o departamento evoluiu...  Dr. Aristides pensou em diminuir as atividades e aceitou liberar um módulo do laboratório dele. O espaço do departamento era muito dinâmico nessa época. Então, o meu laboratório, que foi originalmente o de Neurobiologia III do Gustavo, depois evoluiu para incorporar a salas de eletrofisiologia do laboratório do Eduardo Oswaldo-Cruz e aos poucos o laboratório do Eduardo Oswaldo-Cruz foi desaparecendo e só ficou uma sala do Eduardo dentro do laboratório do Rafael. No final de 1996, desmontaram a sala do Eduardo que ficou em caixas até o falecimento do Professor Eduardo.

Nessa época todo o departamento de neuro almoçava em volta da mesma mesa; era aquela mesa que fica dentro do nosso laboratório atualmente. Era um ambiente muito agradável e a dinâmica do departamento era bem diferente da de hoje. O Departamento era menor e as pessoas se conheciam e conversava com outra dinâmica. Carlos Eduardo, Aglai, Ricardo, Rafael, Roberto, Leny, Nora, Eliane, Romualdo, Dr. Aristides e o Dr. Hiss conviviam diariamente na hora do almoço.

A Rosália veio depois, já no tempo em que Ricardo não era mais chefe de Departamento. Um pouco separados Dr. Aristides, Dr. Hiss e Romualdo inicialmente ficavam em seus laboratórios, mas muito contribuíam para a dinâmica do Programa de Neurobiologia. Com a aposentadoria do professor Romualdo e com o falecimento do Aristides, o Dr. Hiss passou a almoçar sistematicamente com todo o departamento. O ambiente e a dinâmica foi mudando, mas nós sempre fomos muito inclusivos. Os professores discutiam alocação de espaços, às vezes na hora do almoço, e as vezes o Dr. Aristides e o Dr. Hiss não gostavam disso.

Os “bigodudos” queriam almoçar tranquilo e a gente “biscoitava” meio módulo daqui e dali para criar novo laboratório, às vezes na hora da comida. O Programa de Neurobiologia foi sempre muito dinâmico e na visão de Ricardo bem diferente do que é hoje.

A grande mudança se deu na formação de novos programas da Biofísica. Roberto saiu da Biofísica para o Departamento de Anatomia do ICB. Em seguida a Rosália saiu para o programa de células-tronco e criou um tom diferente. A Leny também saiu para um outro programa, e ficamos no segundo andar Ricardo, Eliane Volchan, Claudia Vargas (Tita) e Rafael Linden. Fernando Melo, Rafael Linden, Nora Hokoç e  Patrícia Gardino criaram o Clube da Retina, com almoços memoráveis. Nesse grupo havia uma competição gastronômica que muito aproximou o grupo.

Na visão de Ricardo, o departamento virou programa e houve uma grande diversificação. Do ponto de vista prático, o grande norte foi o seguinte: Nós continuávamos a fazer uma ciência de qualidade, muito focada, mas cada um para um lado. Hoje somos multidisciplinares em áreas de interesse bem diversificadas. Hoje o grupo de Ricardo estuda cognição de uma forma mais ampla, olhando para atenção e consciência. Enfim, olhando outras coisas da neurociência ...

Wandeley de Souza acha que hoje pouca gente faz experimentação animal diferente do tempo em que ele entrou na Biofísica. Naquele tempo, toda a área de fisiologia e mesmo a área de bioeletrogênese eram experimentais. Os estudos eram feitos no animal inteiro ou em órgãos isolados. Isso foi desaparecendo, poucos são os grupos de hoje que realmente estão trabalhando com animais a maioria passou a estudar os fenômenos ao nível celular ou molecular.

Com essa mudança, estudos com primatas ficaram complicados, e o grupo teve que criar um criadouro de Primatas na Biofísica. A tendência era ir para estudos de modelos teóricos em silício. No entanto Ricardo sempre achou que nós não tínhamos nenhum método substituto que pudesse, na área de cognição, resolver os problemas mais básicos. Ricardo achou que abandonar o modelo animal hoje seria um retrocesso, na sua visão um grande e significativo retrocesso para a neurobiologia cognitiva brasileira. Ricardo acha que os pesquisadores tem que enfrentar o problema, da pesquisa com animais, do seu longo período de execução e tratar os animais com um maior respeito.

Ele sempre considerou essa postura como a certa, embora os trabalhos levassem de dois a trinta anos. Estudar um modelo animal não é uma brincadeira, é uma coisa séria. Ainda não sabemos o suficiente do processamento neural para prescindir do modelo animal.
Ricardo considera que com todos os trabalhos dos cientistas laureados ainda sabemos pouco do processamento neural que leva a percepção consciente. Considerando todos os trabalhos de todos os prêmios Nobel, e suas ideias e modelos, nós ainda não temos nenhum modelo unificado de processo para funcionamento básico do sistema nervoso. Não entendemos ainda funções básicas, como percepção e consciência.

Ricardo afirma que se alguém um sistema ou modelo que explica a percepção de forma ele não deveria ser levado a sério.

Ricardo já foi alvo de matérias de campanha da internet, contra o uso de animais em pesquisa científica e conseguiu responder e defender seu uso para pesquisa científica. Nós não teríamos antibióticos, medicamentos e vacinas se não tivéssemos pesquisa com animais.
Ricardo acha que o pesquisador tem a obrigação de responder a sociedade e justificar o uso do modelo experimental que usa. A nossa obrigação como cientista é com a verdade. E a verdade é que nós vamos fazer um desserviço à humanidade se a gente entrar no jogo desse grupo de inconsequentes. Ricardo declara que acha que esses grupos não estão errados em defender suas ideias, mas eles têm um problema de fé. Eles podem até ter um dogma deles, e ter uma adoração pelos animais. Só que sem os animais nós não teríamos medicamentos e vacinas e não entenderíamos como o cérebro funciona.

Sem os modelos animais nós não teríamos os conhecimentos necessários para a evolução da medicina e da terapêutica. Sem os estudos com modelos animais nós não vamos compreender o funcionamento do cérebro e não poderemos curar doenças extremamente danosas para a sociedade, como a bipolaridade ou a esquizofrenia.

Professor Wanderley de Souza acha que esse movimento está diminuindo na sociedade atual. Ricardo concorda e complementa. Hoje nós estamos enfrentando uma pandemia grave e sabemos a importância da ciência. Existe uma diferença assim muito grande entre ativistas contra os biotérios de coelhos e de cachorros e ativistas contra biotérios de cobras e macacos. Ninguém vai soltar cobras e macacos. Cobras e macacos atacam. As pessoas acham que os macaquinhos são muito bonitinhos. Eles são muito bonitinhos, mas eles têm os períodos de raiva e podem fazer um dano enorme se o cuidador não souber tratar dele. Uma coisa é você pegar um cachorrinho, um poodle, uma coisa assim que é dócil por natureza, e solta-la na cidade. Outra coisa é pegar um animal que normalmente se defende com um ataque como um rottweiler ou um urso e deixa-lo a solta ...

É preciso entender a diferença entre um predador como uma onça e um gatinho. Não podemos soltar um urso e esperar que ele fique dócil. Não vai acontecer e é perigoso. Ricardo defende o uso de modelos animais para o desenvolvimento da ciência, ampliação da fronteira do conhecimento e o desenvolvimento de vacinas e medicamentos. Isso não significa que o pesquisador não vai ter que obedecer a todas as normas e ter seus protocolos aprovados por uma comissão de especialistas. Nós temos que obedecer às normas necessárias para o bem estar e conforto do animal. Os protocolos devem usar estratégias e medicamentos para fazer com que o animal nunca sofra ...

Ricardo acha que a área experimental de neurofisiologia está diminuindo no Brasil. Os cientistas estão fugindo dela porque é mais difícil produzir um trabalho relevante e principalmente porque os experimentos demandam mais tempo. O estudo de células isoladas e de sistemas mais simples possibilita a produção mais rápida de um trabalho científico.

Hoje ainda temos grupos de neurofisiologistas no Rio, Natal, Belo Horizonte, São Paulo, Brasilia e no Pará. Mas entre os neurofisiologistas há uma tendencia de utilizar mais modelos humanos.

Modelos humanos são mais fáceis de trabalhar com técnicas não invasivas. Muitos no Rio passaram a estudar EEG e ressonância funcional por que as perguntas podem ser mais importantes do ponto de cista cognitivo. No Pará a professora Ana Karla Amorim com seu grupo, e um aluno do Mário que foi formado na Biofísica, que estão iniciando pesquisas com registros com EEG.

Quando perguntado sobre os grupos que saíram do Laboratório ele respondeu: “por muitos anos eu poderia dizer que o único grupo que ficou aqui era liderado pelo Mário Fiorani. Todos os outros tinham ido para o exterior e tinham conseguido seus espaços lá fora. Eram eles Marcello Rosa, Sergio Neuenschwander, Sidarta Ribeiro, Maria Carmen Piñon e Antonia Cinira Diogo, Ana Karla Jansen Amorim, Marco Marcondes e Bruss Lima. Sidata voltou para criar o Instituto do Cérebro de Natel, RN. Recentemente tivemos a volta de Sergio Neuenschwander para Natal e Bruss Lima para o nosso grupo no Rio.

Marcello Rosa continua na Austrália. Ele é chefe de departamento e hoje tem um currículo invejável. Ele tem um grupo grande e tem tido muito suporte financeiro. O modelo animal que ele estuda é o macaco de cheiro (Callitrix), com técnicas que utiliza múltiplos eletródios, com matrizes de eletródios que o grupo do Rio ainda não conseguiu usar pela dificuldade de recursos e dos entraves de importação. O velho problema do custo Brasil que a ciência brasileira sempre teve.

O grupo de Natal hoje tem o Instituto do Cérebro onde estão entre outros o Sidarta Ribeiro, o Sergio Neuenschwander e a Kerstin Schmidt com seus respectivos grupos. Sidarta e Sergio fizeram mestrado no Laboratório de Fisiologia da Cognição e eles estão em Natal lutando para ter suporte financeiro, como todo Brasil.

Perguntado pelo Wanderley de Souza como o grupo está em questão de equipamentos Ricardo respondeu: “eu diria que nós não estamos mal, mas nós não estamos na fronteira do conhecimento. Esse nunca foi o nosso forte. O nosso forte sempre foi usar “o espaço entre as orelhas” nas palavras do nosso professor Dr. Aristides de Azevedo Pacheco Leão. No passado nós fazíamos os nossos próprios equipamentos. Atualmente, nós estamos comprando equipamentos prontos. Nós recentemente compramos um sistema de 96 canais da Plexon, Inc. Isso com um dinheiro que conseguimos no CNPq para o grupo de cognição composto de Eliane Volchan, Claudia Vargas, João Franca, Cecilia Hedin, Mário Fiorani e eu.”

No final de 2013, depois que Ricardo saiu da FINEP, conseguiu o apoio do CNPq para o projeto multidisciplinar PECA (Percepção, Emoção, Cognição e Ação) que nos deu um grande suporte.
Mario Fiorani diz que quando ele entrou no laboratório em 1983 tudo sistema de registro consistia de um sistema de amplificação, filtros e um microcomputador rodando um programa do NIH, chamado CORTEX. Tínhamos pré-amplificadores uns pré-amplificadores e um filtro que você via que eram comprados, mas na maioria, tudo era adaptado ou construído aqui. Os pré-amplificadores que usamos foi o Ricardo que fez. Ele contou que em Princeton ele chegou para o Charles Gross e disse: “Preciso de um pré-amplificador”. Então veio o Robert Desimone, que era o responsável pelo laboratório do Gross à época, e disse: “- Está bom, tá aqui”, e mostrou um circuito integrado. “Vá montar o seu pré-amplificador”. O Ricardo é uma pessoa que, embora médico, é um excelente engenheiro eletrônico que pegava e construía seus amplificadores. Ele é uma pessoa que tem uma capacidade de consertar e construir coisas. E até o final do meu doutorado, os eletródios, pré-amplificadores e filtros eram feitos aqui. Eu aprendi a fazer eletródios com o nosso grande professor, o mestre Raymundo. Até pouco tempo atrás, tudo que tínhamos no laboratório tinha sido construído aqui. Passamos a comprar eletródios, softwares e equipamentos a partir de 1986. Assim, no início do eletrólito de registro até o programa que fazia análise, era tudo doméstico. Depois de 1992 passamos a comprar equipamentos, mas nós continuamos a escrever nossos próprios programas de análise.

Mario diz que hoje em dia o Laboratório tem sistemas comprados superpotentes. Você não gasta tempo para fazê-los, mas você tem que ter dinheiro para manutenção. Os problemas encontrados para manter os equipamentos funcionando são muito menores, mas é claro passamos por um período que tínhamos mais dinheiro.

Ricardo diz “na verdade, o dinheiro nunca foi o fator limitante do desenvolvimento da nossa ciência”.  A equipe do laboratório tem muitos talentos. O Mário recentemente teve um dos trabalhos reconhecidos na Reunião Anual das Neurociências (USA como o melhor trabalho tecnológico da área de neurociências de sistemas, um trabalho interessantíssimo de mapeamento automático de campos receptores. Esse reconhecimento vem de uma empresa americana que produz sistemas de registro eletrofisiológico, chamada Plexon Inc.

Mário conta que essa história começou quando ele começou a estudar o ponto cego e que depois que convenceu o Ricardo, durante uma experiência, que o efeito realmente existia. A resposta neural com estimulação dentro do ponto cego era uma coisa completamente inesperada, e só isso já era uma quebra de paradigma. Depois disso o Ricardo foi visitar os Estados Unidos por um período de pouco mais de um ano e então fez uma boa propaganda desse resultado.

Ricardo reconhece que fez tão boa propaganda do resultado que o efeito que devia ser chamado de Efeito Fiorani, foi cognominado de Efeito Gattass em um livro (por uma filósofa da costa oeste Patricia Churchland).
Mário diz que o nome do “pai científico”. Na árvore científica Fiorani é dos filhos do Gattass. O Efeito ficou com o bom nome da família.
Mário diz que o efeito ficou mais elegante depois que um artigo do laureado Premio Nobel, Francis Crick falou do fenômeno, e outro em 2003 de uma edição especial da Scientific American, chamada Minds, fez referência ao nosso laboratório lá do exterior; os autores sao Patricia Churchland e Vilayanur Ramachandran, dois nomes de neurocientistas que trabalham com divulgação de ciência. O Francis Crick é um dos descobridores do DNA e a Patricia Churchland é uma filósofa, especializada em Neurociências, da California. Os dois autores fizeram revisões sobre o assunto e deixaram comentários elogiosos sobre o fenômeno e sobre a importância desse trabalho.

Wanderley de Souza perguntou ao Ricardo, porque depois disso ele se afastou do laboratório. “Durante um período você foi para administração da universidade, depois foi para a Academia Brasileira de Ciências, e depois para FINEP e pouco estava no laboratório. Como foi o retorno ao laboratório?”
Ricardo respondeu que foi uma trajetória imprevista e difícil, mas que ele não se arrepende desses envolvimentos em nenhum instante.
De 1998 até 2001 eu participei da Administração Central da UFRJ. Eu havia sido convidado pelo Antônio Carlos Campos de Carvalho, então diretor do IBCCF, para ir me apresentar no conselho universitário porque eles pretendiam criar uma nova pró-reitoria de pesquisa. Eu gostava da ideia, porque sempre achei que isso fosse uma coisa certa a se fazer na UFRJ. Eu já tinha trabalhado com o Moysés Nussenzveig para escrever um novo estatuto para essa universidade, na qual a gente criaria uma pró-reitoria de pesquisa. Eu tinha uma ideia bastante clara de que isso significaria um avanço na pesquisa da universidade. E então, em 1998, fui ao Conselho Universitário e propus, naquela época, a criação de uma Pro-reitoria de Pesquisa, me apresentando como candidato à Pró-reitor. Eu fui lá para ser apresentado ao CONSUNI. O Professor Vilhena ia me apresentar como pró-reitor de pesquisa, mas não deixaram o Vilhena falar e me deram a palavra. Falei que tinha 31 anos de UFRJ, dei aula na Universidade até ser aposentado e sempre trabalhei aqui. Disse que sempre dei aula, dava as minhas aulas, 350 aulas por ano; sempre fiz minha pesquisa, passei todo o meu tempo no Instituto de Biofísica; e que nunca havia pisado na Reitoria, a não ser nos dias de minhas posses como Professor Assistente e depois como Professor Titular. De fato, fora dessas datas nunca pisei na Reitoria. Os membros do CONSUNI gostaram de minha fala e me pediram para me ausentar para eles poderem deliberar. Quando voltei eu não era mais candidato a pró-reitor de pesquisa, eles me fizeram sub-reitor de pós-graduação e pesquisa, com dois votos contra: o do Professor Aloisio Teixeira e do representante dos alunos. Eu fiquei em uma situação constrangedora porque quem era o reitor de pós-graduação e pesquisa era o Professor Figueiredo (da COPPE), mas o o Conselho Universitário havia destituído o Figueiredo da PR2 e o indicado para a sub-reitoria de graduação.
Ao final da sessão, ficamos em choque, mas como o ambiente político era muito conturbado o professor Figueiredo foi para a PR1 e eu fiquei na reitoria, como sub-reitor de pesquisa e pós-graduação, tendo que presidir o CEPG no dia seguinte, na sexta-feira. A comissão do conselho fez com que o Vilhena me pedisse para que eu presidisse o Consuni na sua ausência. Como o conselho foi sempre muito conturbado na presença do Vilhena, ele a Ricardo que se ausentaria nas próximas semanas, e se isto estaria bem para ele. Eu presidi o CONSUNI nas duas semanas seguintes e a pauta fluiu e o conselho andou tranquilamente. As agressões dos representante dos alunos, afiliados do PSTU, desapareceram depois que os deixei falar até a metade do tempo regulamentar do CONSUNI. Em outras ocasiões, o professor Vilhena pediu a Ricardo para presidir o CONSUNI e o CEPG, e eu passei a fazer isso. Foi a minha sina. Depois disso, eu fui mais de 8 vezes reitor substituto, em períodos alternados. Em todos os momentos de crise, o professor Ricardo assumia a Reitoria da Universidade. Ele nunca foi eleito reitor, mas foi, por um tempo longo, reitor substituto. Passou a ser o presidente em exercício do CONSUNI, e tivemos um bom período de calmaria. Num determinado momento, o Professor Figueiredo, que tinha aspirações de ser Secretário de Educação, foi para a Brasília e deixou a PR1. Ele era o Sub-reitor de Graduação e Corpo Discente. Para não deixar em aberto a Sub-reitoria de graduação, Ricardo assumiu e presidiu o CEG por quatro semanas. Esse foi o seu segundo erro. Ao presidir o conselho de graduação (CEG) nesse período, os conselheiros não queriam mais que ele saísse, e por isso nunca aprovavam o candidato do Vilelha, professor Átila para a Sub-reitoria de Graduação e Corpo Discente. E eu fiquei como Sub-reitor de Graduação por 3 anos, até o fim do mandato.

Ricardo diz que até 2002 fez parte da Administração da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Fiquei cerca de 4 anos como Sub-reitor de Pesquisa e Pós-graduação, e 3 anos como Sub-reitor de Graduação e Corpo Discente. E na minha avaliação eu tive cerca de 8 ou mais vezes como reitor substituto e assim, na parte final do mandato, eu tive a impressão de ter sido reitor da UFRJ por cerca de 4 meses e presidente do CONSUNI por mais de 3 anos. Ricardo era o reitor substituto e presidia os 3 conselhos da Universidade. Nas horas de crise e de pedir vagas ele ia à Brasília, para resolver os problemas. Nesse período ele conheceu muita gente no MEC e na CAPES. Em Brasília, ele nunca teve problema em negociar vagas ou recursos para a UFRJ. Ricardo acha que como ele não participou de nenhuma disputa política, era discreto em sua posição partidária, nunca teve problemas com ninguém. Como ele nunca participou de eleições, não havia brigado com nenhum diretor ou membro do conselho, e tinha sido por 35 anos um professor-pesquisador muito focado, que era como se ele não tivesse vindo de nenhum lugar. Os conselhos não o identificavam nem com o Instituto de Biofísica.

Ricardo chegou ao CONSUNI apresentado pelo Professor Vilhena como um professor da UFRJ, membro da Academia Brasileira de Ciências. No início, como o professor Vilhena o havia apresentado como um professor da Biofísica, o CONSUNI inicialmente o identificou com o professor

Antônio Carlos Campos de Carvalho, diretor da Biofísica, e considerado do grupo dos “pHdeuses” daquela época. Na primeira semana, eles me chamaram de “cachorro do Vilhena” e colocaram uma charge de Ricardo no Jornal da Assuferj como um cachorro seguro por uma coleira pelo magnífico reitor.

Depois da terceira semana, tudo já havia sido deixado para trás, e o restante do tempo na reitoria passou tranquilamente.
Preguntado pelo Wanderley de Souza qual foi o balanço desse período de reitoria, Ricardo respondeu” acho que foi bom! O período foi bastante pesado para ele pessoalmente, mas foi muito bom para a UFRJ. Como substituto do reitor, Ricardo contribuiu principalmente para a regularização das reuniões do CONSUNI.” Ricardo declara que o ambiente do Conselho Universitário não era bom quando o professor Vilhena presidia o CONSUNI. Quando ele passou a presidir o Conselho, as reuniões deslancharam e pode-se retomar a pauta interrompida e regularizar a vida da universidade, conturbada por movimentos políticos contra o professor Vilhena.  O CONSUNI regulamentou e aprovou vários Professores Eméritos que estavam por ser apresentados. Na Sub-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, com o auxílio do Professor Watanabe, aprovamos o Regimento Geral da Pós-graduação da UFRJ, e com auxílio da assessoria da professora Aglai P.B. Sousa aprovamos todos os Regimentos da Pós-graduações reconhecidas pela CAPES. Na Sub-reitoria de Graduação e Corpo Discente colocamos no ar a primeira versão do Sistema SIGA rodando em um “cluster” de microcomputadores no NCE. Fizemos até um manual para os professores com ajuda das professoras Antônia Cinira e Marilia Netto.

Ricardo que participou da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC) de 1994 a 2004. Ele diz que em 2002 estava como vice-presidente da, depois de quase 12 anos como diretor da academia, quando o Presidente Lula (Luiz Inácio da Silva) foi eleito. Ricardo estava numa reunião de diretoria da ABC quando combinei com o Professor Luiz Bevilacqua e o Professor Gilberto Sá, que eram membros da diretoria, que nós tínhamos que fazer algum movimento para evitar que o Brasil passasse por esses ciclos de perda de eficiência gerados por descompassos políticos. Ricardo propôs à época que a Academia se engajasse politicamente, e que os Diretores se dedicassem e se envolvessem pessoalmente para evitar que houvesse uma descontinuidade como aconteceu no Brasil em outros períodos de transição. Ricardo também tinha um amigo em Teresópolis chamado professor Wanderley de Souza que o convidou a participar do novo Ministério de Ciência e Tecnologia. Wanderley propôs em um jantar em irmos para Brasília. Ricardo lembrando os problemas que existiram no Brasil em outras transições como a do Presidente Jânio Quadros falou prontamente “Wanderley estou pronto.” Ricardo falou sobre o convite com Bevilacqua, Galemberg e Gilberto Sá e terminamos todos em Brasilia.

Ricardo falou para o professor Wanderley que poderia ajudar no ministério no que ele precisasse. Ricardo disse quando um candidato é eleito presidente, ele é o presidente ... , não é o presidente do partido, ele é o presidente do Brasil. Os cientistas tem a obrigação de ajudar o Brasil, independente do partido, independentemente de suas obrigações formais.

O Presidente Lula foi muito feliz, e Ricardo tem orgulho de ter participado da administração principalmente no seu primeiro mandato. Ricardo, com todas as suas limitações políticas e com todas as limitações do sistema resolveu ajudar em qualquer posição. Ricardo declara teve muito orgulho de sua participação no desenvolvimento de Ciência e Tecnologia até 2010.

Ele ressalva que não pode falar o mesmo da administração da Presidente Dilma Rousseff. Dilma foi realmente uma catástrofe
Ricardo diz que espera que a Presidente Dilma aprenda um pouco com seus erros.

Ricardo diz que acha que o Presidente Luiz Inácio da Silva deixou o Brasil melhor do que ele pegou. A presidente Dilma está deixando o Brasil numa situação muito pior do que ela pegou. Em determinado momento, sai de Brasília e voltei aqui para o Rio. O Sérgio Resende, então presidente da FINEP, me convidou para colaborar com sua administração, e Ricardo se tornou Superintendente da Área de Universidades e Institutos de Pesquisa.

O professor Wanderley perguntou ao Ricardo sobre sua participação no CNPq e CAPES? Ele respondeu: “passei por Brasilia em três ocasiões: No Conselho Deliberativo do CNPq como representante da comunidade científica, indicado pela Academia de Ciências; no MCT como subsecretário das Unidades de Pesquisa do MCT; e na CAPES, como representante da comunidade científica. Minha participação na CAPES foi sempre muito prazerosa. Inicialmente participei do grande movimento democrático de difusão da ciência que culminou com a criação do Portal de Periódicos da CAPES. Fui da comissão do portal desde sua criação até 2010. Tenho muito orgulho disso. Ainda na CAPES sob a coordenação do Professor Francisco Sá Barreto escrevemos o Terceiro Programa Nacional da Pós-graduação (para o período 2005-2010) e mais tarde com uma comissão ampliada escrevemos vários capítulos do Programa Nacional da Pós-graduação Brasileira para o período 2010-2020.

Wanderley pergunta também ao professor Ricardo, como foi o retorno da sua primeira fase da FINEP para o seu laboratório? Ricardo alega que foi outro evento coisa bastante prazeroso... Há dois anos Ricardo saiu da FINEP injuriado com o Professor Glauco Arbix e sua equipe. Ele alega que saiu em um momento em que eu estava terminando a penúltima edição do PROINFRA da FINEP. Ricardo havia terminado o julgamento do ano anterior, entregou os dados e estava programando a outra ação quando o Diretor Científico a época me deu 10 minutos para fechar seu computador e ir embora. Achei aquilo uma falta de educação absurda.
Dez minutos não deu tempo nem de fazer o backup das mensagens, fechar o computador e ir embora. Mas, tratava-se de cargo de confiança e eu não tinha confiança no diretor e nem do presidente.

Na gestão do Professor Wanderley de Souza, Ricardo voltou a FINEP por mais dois anos como Diretor Científico e Tecnológico.
Em ambas as ocasiões, Ricardo saiu da FINEP e trouxe suas coisas para a UFRJ e começou a trabalhar imediatamente. Na primeira saída ele teve a ideia de trabalhar no IDOR (Instituto de Pesquisa da Rede D´or) pois ele tinha sido Professor Titular de Neurociências e agora estava aposentado. Mas o professor Mário Fiorani foi muito  enfático ao pedir para Ricardo voltar por um tempo para o laboratório. Mário que era o chefe do laboratório, disse: “Nós estamos precisando que você volte por um tempo para o laboratório, leve em conta que sou um péssimo administrador”.

Ricardo sempre achou que o professor Mário era um excelente cientista, uma cabeça brilhante e tinha muitos alunos bastante ativos, mas estava com muitos manuscritos por escrever. Ricardo diz que isso explica porque que no ano de 2014 o laboratório teve 6 trabalhos publicados.
Ricardo diz é que não é que ele esteja limpando as gavetas. Ele diz que está curtindo cada vez mais o laboratório. É uma coisa que eu não fazia antes. Eu era muito ocupado e sempre fui muito bom em fazer as coisas. Agora ele está só lendo e escrevendo, e curtindo mais os dados...
Pensar, escrever, organizar e gerar trabalhos passou a ser a função do professor Gattass. Naquele ano a demanda por revisões e definição de pontos discrepantes da literatura passaram a ser a prioridade do Laboratório de Fisiologia da Cognição. As revistas passaram a demandar novos esclarecimentos de dados que havíamos acumulado por anos. A toda hora, vinha um pedido novo de uma revista ou editora...

Ricardo foi feito Professor Emérito da UFRJ por suas contribuições científicas e administrativas. No laboratório ele estava trabalhando em uma coisa completamente nova que envolvia consciência e o funcionamento do cérebro. Ele achou que deveria continuar lá pois antevia que iria publicar novos trabalhos de muito impacto...

Wanderley pergunta sobre a interação com a área médica “você foi um dos primeiros a ter essa interação, não foi? Ricardo responde que o Dr. Jorge Moll Neto (Jorgito) veio para estagiar com o objetivo de fazer uma pós-graduação. Ele queria fazer a sua tese sob a orientação do professor Ricardo. Ao ver a rigidez do programa de pós-graduação do Instituto (IBCCF) ele decidiu não fazer a tese aqui porque a pós-graduação não abriu mão dos créditos. Ele acabou fazendo a tese na USP, porque a USP abriu mão de todos os créditos. Jorge Moll Neto foi mandado para o NIH para um estágio e terminou defendendo sua tese no Serviço de Radiologia da USP.
O trabalho que ele fez, o fez aqui no Rio. Ele rejeitou fazer a pós graduação no Hospital Universitário, no qual ele também não precisava fazer uma série de cursos, mas ele optou pela USP. Ricardo acha que essa postura que já existia na Bioquímica Médica é mais correta e que a nossa pós-graduação do IBCCF devia aprender.

Hoje Jorge Moll Neto está fazendo um belíssimo trabalho científico e um excelente trabalho para a ciência no Rio de Janeiro. Ricardo fez parte, no início, do corpo acadêmico que julga a produção cientifica do IDOR. Isto também estava me dando trabalho e o LFC estava precisando de mais atenção. Ricardo então diminuiu sua participação nas ações do IDOR. No início ele tentou conciliar o Fundão e o IDOR, mas logo resolveu em centrar todos os esforços no laboratório. Segundo ele o Rio de Janeiro estava impossível de trafegar e ele passava muito tempo no trânsito.

Ricardo diz estar vindo para o laboratório no Fundão todos os dias de 08: 30 às 16 horas da tarde e tem sido muito prazeroso. Não só para o grupo do LFC mas também para o grupo do João Franca, que tem se motivado bastante.
Ricardo passou a fazer o que o Carlos Eduardo fazia com grande maestria. Aliais, o professor Carlos Eduardo tinha uma maestria intelectual que Ricardo diz não ter. Carlos Eduardo discutia e ajudava aos seus alunos a escrever seus trabalhos. Essa sua atividade contribui para que as pessoas melhorem os seus trabalhos, e por isso a produtividade dos laboratórios dele e do João Franca melhorou muito. Ricardo reconhecia que nessa área de pesquisa nós ainda éramos muito lentos em relação a pesquisadores de outras áreas de conhecimento, mas que o grupo estava certamente progredindo cientifica e academicamente.

Mario Fiorani concorda com Ricardo no avanço, principalmente na parte experimental A área da microscopia experimental evoluiu muito, com equipamentos complexos como o confocal em que grupos pegam pequenos animais e os põe sob a objetiva e tem informações a nível celular de processos neurais. O LFC nunca chegou lá mas mesmo assim, tem tido contribuições relevantes para os processos e funcionamento do cérebro com experimentos eletrofisiológicos em animais acordados.

Ricardo convenceu o ex-aluno do Mario Fiorani, Bruss Lima a ser professor e pesquisador em seu laboratório na Biofísica. Nas palavras do Mario: “Bruss Lima acabou de voltar da Universidade da Columbia, onde fez um trabalho que usa imageamento intrínseco do córtex. Uma parte das pessoas diz: “- Ah, mas hoje em dia você tem ressonância funcional, você não precisa usar animais.” Esse último trabalho que o Bruss publicou agora, está tentando explicar o sinal do imageamento óptico. É claro que eles usam um imageamento óptico do córtex, e que o sinal tem uma relação com o sinal vascular. Ele registra a atividade elétrica e o sinal ótico simultaneamente. Então, embora ele chegue à conclusão que o sinal parece ser relacionado a fluxo sanguíneo, você olhando, você passa do funcionamento da célula para olhar para um processo do tecido por um método de ressonância. Há uma grande lacuna a ser preenchida. O importante é saber o que você está vendo na ressonância. E em segundo lugar, se há um atraso temporal, o sinal hemodinâmico é uma coisa indireta.”  

Wanderley pergunta: “e não dá para conjugar as duas coisas?” Mario responde que há grupos começando a fazer essa associação.
Ricardo alega que em vários lugares há pesquisadores estudando a correlação do sinal ressonância funcional com o doe imageamento ótico. Na Alemanha, existem grupos estão fazendo isso. Há muita gente nesse campo, mas ele acha que ainda temos muito trabalho para fazer até fazer a correlação entre esses dois sinais.

Ricardo volta a estória da volta ao laboratório. A volta ao laboratório foi uma das coisas mais prazerosas que aconteceu para mim do ponto de vista médico. Ele espera que agora, nessa nova fase, que o laboratório volte a ser extremamente produtivos. Ele quer voltar a colher dados na Biofísica. Ele então diz: “este ano mandei dois resumos para a reunião anual da Sociedade Americana de Neurociências para voltar a apresentar os meus trabalhos lá e voltar a aparecer em reuniões com meus colegas. Eu preciso voltar a discutir neurociência com meus pares...”
Fazer os contatos e ficar ligado no ambiente científico mundial, falar com pessoas que estão utilizando novos métodos e conversar com amigos. Enfim, ele acha importante dar uma volta, ver novas técnicas, discutir novos assuntos é muito importante pois a sua volta da política científica e da administração para a ciência foi difícil foi difícil de voltar ao foco científico. O envolvimento com a Administração Central da reitoria, somado ao período no MCT e na FINEP, fizeram com que o meu afastamento me obrigasse a me reciclar junto à neurociência. A maneira de processar os dados mudou, e passamos a fazer programação pesada usando MatLab e LabView. Ricardo acha que o seu afastamento foi muito intenso, por um período muito longo. Um período importante para a ciência do Brasil, mas pessoalmente muito duro, que ele racionalmente não repetiria. Na reitoria, presidir os três conselhos foi importante, mas foi feito por um esforço pessoal grande. Sobre esse período eu acho justificativas importantes para mim: Na UFRJ: no final, eu já havia assinado aproximadamente 28 mil diplomas; No MCT: participei de um sonho de mudar o Brasil; Na FINEP: participei de um movimento que criou e consolidou programas de infraestrutura, como o PROINFRA que, com outros, colocou mais de 2,4 bilhões de reais nas Universidades Públicas e nas Instituições de Pesquisa do Brasil.

Você trabalha intensamente e muito, você se aborrece com a mediocridade e regionalismo. E depois, o salto que você dá para voltar ao foco da ciência é muito grande.

Ricardo declara que depois dessa trajetória sua conclusão foi, que de fato, a UFRJ como formadora de cidadãos e contribuidora para a ciência e para a política científica andaria muito bem sem a presença de um reitor. O reitor faz uma diferença enorme para a manutenção dos valores acadêmicos, para a agregação dos centros e para a manutenção do ensino, pesquisa e extensão em um ambiente digno e agradável. Se o reitor sabe das coisas e tem bom trânsito em Brasília, a universidade pode evoluir como o reitor quiser. Se tivermos um reitor que tem a cabeça no lugar, principalmente agora com a crise dos Centros e dos Hospitais Universitários, precisamos de um reitor que agregue e não divida a universidade.

Nós temos aproveitado muito pouco dos momentos de grande apoio. Ricardo costuma dizer que quando ele estava no final do mandato na reitoria, e acumulou quase todas as sub-reitorias: Patrimônio e Finanças (SR3), Pesquisa e Pós-graduação (SR2) e Graduação e Corpo Discente (SR1) e ainda era reitor substituto, ele fez ações junto à Brasília para conseguir 8 milhões para pagar a Luz e Água da Universidade. A UFRJ devia luz, água e telefone para as empresas. A Light ia cortar a luz e ele foi ao MEC pedir esse dinheiro. O dinheiro entrou na conta da UFRJ no dia que ele entregou a reitoria para o Professor Lessa. O Professor Lessa pegou esse dinheiro da reitoria e fez uma festa num bar próximo a reitoria: a festa da “Minerva Assanhada”. Aquele episódio deixou Ricardo extremamente preocupado com o futuro da Universidade.

Daniele Botaro perguntou como estava a inserção internacional do laboratório. Ricardo respondeu que foi muito feliz nas suas parcerias nacionais e internacionais.
Complementa ele: “Aliás, uma das coisas que caracterizaram a minha vida foi a de ter bons amigos. Eu acho que os meus amigos acadêmicos são muito generosos. Eu devo muito a eles. Quando eu cheguei em Princeton, em 1977, Ricardo pretendia trabalhar com o David Bender, que era com quem o Carlos Eduardo havia trabalhado. Só que o Bender já havia deixado Princeton e ido trabalhar em Bufallo, NY.  O Professor Charles Gross, chefe do laboratório, disse: “- Olha, Bender já foi. Agora você vai trabalhar comigo.” A metade das coisas que ele me disse no primeiro dia com seu sotaque Novaiorquino, eu não entendi. Mas minha experiência de pós-doutorado foi excepcional e muito instrutiva. Aprendi muito com o Professor Charles Gross. Ele tem uma mente brilhante. Ainda hoje, está ativo cientificamente. Ele se aposentou formalmente no ano passado, ele e se casou com a professora de literatura e autora de muitos “best sellers” Joyce Carol Oates. Os dois se transformaram no casal 20 de Princeton. Ele por ser um professor famoso (e eu acho que ele e Carlos Eduardo deveriam ter recebido o prêmio Nobel) e a Joyce Oates, na área dela não precisa de um prêmio Nobel, porque o reconhecimento vem em dinheiro mesmo da venda de seus “best sellers”. No Laboratório do Gross eu conheci o estudante de doutorado Robert Desimone, que veio a ser meu chefe no NIH, Diretor Científico do NIMH e meu amigo. Ele era casado com Leslie Ungerleider que também tem sido uma grande colaboradora e amiga. Atualmente a Leslie continua no NIH como chefe do Laboratório de Cérebro e Cognição do NIMH. Até hoje Ricardo continua em contacto com eles e escreve revisões e artigos com eles.
Com a Leslie Ricardo acabou de escrever uma revisão essa semana. Com o Robert Desimone escreveu nesse ano uma revisão e está começando a escrever um artigo com Thomas Albright, outro amigo de Princeton. Ricardo e Bruss escreveram uma minuta do artigo e mandaram para o Thomas Albright para ver se ele quer ser parceiro ou não nessa jornada.
Ricardo declara a Wanderley de Souza que está otimista e que está em uma fase ótima e tranquila. Do ponto de vista cientifico, eu estou muito bem. Sinceramente, não tenho nada a reclamar.

Wandeley de Souza pergunta da família. Ricardo responde que como avô ele está ótimo. Estou com cinco lindos netos, quatro no Brasil e um em Washington, DC. Todos saudáveis e inteligentes, graças a Deus. Mario Fiorani intervem: “Eu acho que cientificamente ele também está bem, como um avô. Quando você tem alunos diretos, você é pai. Você tem que tomar conta deles. Quando você não tem nenhum aluno que é seu direto, e os alunos vão todos perguntar as coisas para você, você resolve os problemas. Você só curte e se der trabalho você chama o de orientador e pronto.”

Ricardo declara que ele acha que o laboratório hoje esteja muito bem estruturado. No início, eramos eu e Aglai e muitos alunos. Com o tempo muitos saíram e só ficou o Mário, agora temos a Juliana Soares e o Bruss Lima. Um estafe supimpa, com habilidades complementares.

Ricardo comenta que a expectativa de um concurso em nossa área não ocorreu, mas o Bruss Lima, uma pessoa talentosa e tranquila fez um concurso em outra área e agora estamos todos felizes com ele de volta. Não há dinheiro sobrando, nem um monte de alunos ou vagas sobrando, nada disso. Ricardo comenta que estão reestruturando o laboratório com uma disposição enorme.

Em sua opinião Ricardo declara que prefere que o laboratório trabalhe com as demandas atuais.  Aqui no Brasil, nunca tivemos a possibilidade de fazer um planejamento muito a longo prazo. Os eventos evoluem erraticamente, e as nossas previsões raramente funcionam aqui.

Wanderley de Souza pergunta o que Ricardo acha dos programas “Pensa Rio” e “INCT”. Ricardo declara que fizemos o INCT ele era coordenador, mas no final julgamos que era muita demanda para o Rio de Janeiro era muito grande e optamos por passar a coordenação para São Paulo, para o Dr. Antônio Galves. Eu fiquei como vice-coordenador. Mas estamos na expectativa de poder trabalhar juntos, mas já sei que o INCT vai dar pouco dinheiro para os laboratórios do Rio de Janeiro.
Na opinião do Wanderley de Souza o INCT é mais uma articulação científica, de dinheiro mesmo é muito melhor um pedido do tipo “Pensa Rio”.

Ricardo avalia agora não há muitas opções de auxílios, mas não está faltando dinheiro para o laboratório. Na sua opinião o que está faltando é um pouco de estruturação, porque está tudo sendo feito no corpo a corpo. As compras estão sendo feitas no corpo a corpo, e nós estamos com uma pessoa no laboratório fazendo o gerenciamento do projeto, mas paga com recursos do laboratório. Ele alega que quando voltou para a Biofísica na segunda vez, já havia uma confusão na área da contabilidade. Na dúvida acabamos por fazer uma centralização no laboratório.

Wanderley diz que ele põe todos os auxílios na contabilidade. De vez em quando ele diz que tem que brigar um pouco com o pessoal da contabilidade, porque cresceu demais e às vezes o pessoal não dá conta. Por outro lado, quando ele pensa em tirar de lá e administrar o dia a dia de compras e notas ele desiste.

Ricardo declara ao terminar a entrevista que não estava preparado para esta entrevista e que estava pensando que viria para falar sobre do seu grande chefe e amigo professor Eduardo Oswaldo-Cruz. Wanderley retruca dizendo que não, o Eduardo vai ficar para outra hora.